Bem vindos ao meu blog. Aqui escrevo o que penso, o que me apetece e o que bem entendo. Fiz-me entender? Nem por isso? É complicado exemplificar. Puxai uma cadeira. Comei pipocas e ride! Sim...riam muito porque tristezas não pagam dívidas.



domingo, 3 de julho de 2011

Vagabunda

Há muito que não saía...
Fez muito tempo desde a última vez que nos vimos. Parei numa pensão e resolvi passar ali a noite. O lugar era acolhedor e as pessoas eram simpáticas.
A recepcionista disse-me que tinha direito ao pequeno-almoço. Depois de ficar sozinha no quarto desfiz as malas e abri a janela.
Quase não havia movimento. As pessoas hoje em dia não estão para gastar dinheiro. Lembrei-me de quando falavas das tuas aventuras.  Gostavas de me dizer que vivias de quarto em quarto. Nunca tinhas moradia certa. Para ti, todos os locais te pertenciam. Talvez por isso tenhas pensado que os corações de outras mulheres também.
Saí do quarto perdida na noite. Não sabermos onde estamos costuma ser uma boa desculpa para o que sucederá. Parei num bar qualquer. Pedi uma bebida e sentei-me numa mesa a um canto. As pessoas olhavam-me com curiosidade. Ser-se novo num sitio sempre despertou a curiosidade dos mais cépticos.
Uma mulher bem vestida veio sentar-se a meu lado. Contou-me um pouco da sua vida e perguntou-me porque estava ali.
No fundo nem eu mesma sabia. Tomei balanço e falei-lhe de ti. Ela ouvia-me atentamente e fazia-me algumas perguntas. Ao fim do quarto copo respondi-lhe a todas as questões sem hesitar.
-Sente-se sozinha? - Perguntava-me ela pensando que vinha em busca de companhia. Nunca lhe disse a verdade, mas ela sabia o quanto me custava  tocar no assunto.
- Porque não dorme com outros homens? - Perguntou-me em resposta.
- É uma coisa que há muito não me apetece, a sério. Com ele tenho todos os homens.
Senti que a deixara surpresa. Vi no olhar dela que não estava acostumada a ser mulher do mesmo homem. Por momentos invejei-a.
Paguei a conta e saí para o meio da rua. A noite estava fria, mas eu tinha o corpo quente. Cada um bebe o que pode para vestir o casaco que mais gosta.
Fartei-me daquilo num instante. Em cada bar que parava, cruzava-me sempre contigo. Estavas em todos os copos de Whisky, em cada banco sentado. Via-te duplicado em todos os lados, talvez por ter passado tantos anos sem te ver.
Seria inútil pagar para te ver, quando eu apenas paguei mais um copo.
Deixei-me de coisas e tentei achar o caminho de volta para a pensão.
Quando cheguei tu já lá estavas á minha espera. Achei curioso não teres mudado nada em seis anos. Paguei um quarto de duas camas na esperança de te encontrar quando chegasse. Hoje desejei que esse quarto tivesse apenas uma. Mandei-te embora sem abrir a porta, não seria preciso.
Deixei o copo na mesa de cabeceira e deitei-me exausta por entre os lençóis hirtos do tempo.
No fundo eu sabia que, quando despertasse tu já lá não estarias.
A vida é mesmo assim, cheia de boas lembranças que teimamos em recordar. Mas entre elas, o vazio que as preenche.

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