O tempo escureceu de repente.
Foi então que eu saí de casa.
Levei o guarda-chuva na mão e movia-me sem pressa. A pressa trás o tédio que tudo abate.
Movia-me devagar ao som da música.
Movia-me por entre pedras e pequenos pedaços de terra. O santuário ficava mesmo ali á frente.
Subi a íngreme ladeira até lá chegar. Á medida que ia subindo começava a deixar de chover. Sentia o corpo gelado mas não me preocupava. A sensação invernal no corpo sabia-me tão bem. Como eu tinha saudades de voltar a sentir aquele frio de novo.
Quando finalmente cheguei ao cimo avisto o santuário vazio. Caminhei calmamente até á porta de madeira entre-aberta. O solo brilhava lá dentro. Não haviam velas. Somente uma imagem que me aguardava, que esperava um dia a minha vinda. Ali estava eu diante dela pronta para orar por todas as promessas feitas.
Peguei no meu pequeno terço preto e agradeci pela luz que me foi concedida ao fim de tanto tempo de sofrimento. Agradeci por todas as lágrimas que caíram até por fim se terem esgotado.
Quando terminei pensei ter já feito a minha pequena jornada.
Ao voltar-me para a porta avisto-te.
Tinhas o olhar triste. Vi na tua falta de sorriso alguma culpa. Errar é humano e tu sempre encaraste as coisas assim. Mesmo depois desse mesmo erro que dizes ser humano se ter prolongado por tanto tempo e ter ferido tanta gente.
Passei por ti calmamente. Apreciei atentamente o teu desgosto.
Sabes, em tempos fui eu a estar no teu lugar, a sentir esse mesmo desgosto sempre precisar de o sentir.
Na vida há coisas assim, justiças que são feitas sem que tenhamos que mexer-nos, sem que precisemos mostrar o que valemos.
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