Bem vindos ao meu blog. Aqui escrevo o que penso, o que me apetece e o que bem entendo. Fiz-me entender? Nem por isso? É complicado exemplificar. Puxai uma cadeira. Comei pipocas e ride! Sim...riam muito porque tristezas não pagam dívidas.



sexta-feira, 1 de abril de 2016

A stalker da minha vizinha

Quem é que nunca tem ou teve uma vizinha que é melhor fonte de informação que o telejornal da Sic?
Se ainda não têm uma, roam-se de inveja, porque como a minha, de certeza que não é.
Conheço-a desde que nasci.
Mostra-se sempre muito simpática, mas não passa de um esquema falhado de camera do Big Brother em território Algarvio.
O nome dela ( dado por mim neste espaço) é a J.
A J é uma velhota solitária que antigamente fechava a porta a tudo e a todos. Hoje, viúva e completamente sozinha, pede a tudo e a todos que lhe abram a porta...mas ninguém o faz.

Mas porque será?

Porque ninguém lhe precisa de dizer em primeira mão o que ela supostamente já sabe de antemão.
Os seus dias são passados virada para a janela, com as mãos na cortinas da cozinha, vendo todo o carro que se estaciona em frente do prédio, toda a peça de mobília que entra escadas acima, enfim, tudo da vida de toda a gente que vive no mesmo prédio.
Como já era de calcular, eu não poderia ser exceção.
Quando venho do trabalho e meto a chave na porta, eis que olho para a minha esquerda e vejo surgir aquela cabeleira cinzenta, espetada mesmo ao estilo Heavy Metal, com os seus óculos redondos e brilhantes, acompanhados da dentadura quase a saltar, com restos de folha de alface ao alcance do olhar mais miupe.
Caso tenham uma vizinha com os mesmos sintomas, cuidado, pois pode virar uma J a todo o momento!

Um certo dia, a pobre senhora deu-se ao trabalho de tocar à campainha de minha casa. Como já era de calcular, eu não lhe abri a porta.
Se eu disser que a criatura levou uma hora parada junto da porta, não estou a mentir. Mas essa hora não foi apenas passada em frente da porta. Essa hora foi passada com o ouvido encostado na porta, a baixar-se para tirar o tapete e ver por baixo da porta, mandar uns quantos traques que até eu dentro de casa os pude sentir, e tocar tanto à campainha que ia ficando surda.
Por fim desistiu. Lá colocou o dito tapete no local, deu a sua última espreitadela e foi descendo calmamente, certificando-se que a placa dentária continuava no mesmo sitio.

Em menos de dois dias, assim que me viu na rua, foi logo dizer-me que sabia que eu estava em casa.
Mais um motivo para ter virado costas e ter ido à sua vida de detetive dentro de casa. Ninguém é obrigado a abrir a porta quando não se quer.

Além do mais não pretendo abrir uma segunda vez a porta a uma mulher que, mal me mete um pé dentro de casa, este é acompanhado com o som de um peido, que vem seguido por tantos outros até se sentar no sofá.
E como se isto fosse pouco, ainda a confrontei com a situação, mas a única coisa que me soube dizer foi "Se tenho vontade lagozje".

Deduzo que a dita senhora tenha uma pontada de solidão crescente dentro de si, tão grande que já se enrola nos intestinos.
No entanto, eu não tenho escrito na testa Assistente social de lar de terceira idade. E nem pretendo. Pelo menos não para já!

Há uma quinta oculta dentro de mim

Cada um com o seu talento.
Uns descobrem-nos cedo demais, outros bem tarde.
O meu talento foi descoberto algures numa aula de música de 5º ano, quando a minha professora decidiu que, cada nota musical iria corresponder ao som de um animal.
Lembro-me da minha mente ganhar asas nesse preciso instante.
E o resto foi conversa...
A sala tinha as mesas em U e eu estava nervosa por chegar a minha vez de apresentar.
Os meus colegas fizeram a sua música mas, a jurar pela cara da professora, as coisas não estavam de todo apelativas.
E nisto chegou a minha vez...

Tudo começou com o cantar de um galo, que ainda hoje penso sabe-lo fazer na perfeição. Depois seguiram-se dois porcos, um cão, um gato e um sapo. Acho que ainda houve espaço para um burro, dois ratos, um cavalo e um pato.

Como podem ver, uma quinta completa.
Quando terminei, lembro-me de olhar para a minha professora e dela me dizer:
"Muito bem Tânia. Vive no campo?"

Só me lembro de sorrir completamente tímida e de dizer: "Obrigada. Não, vivo na cidade".

Não precisamos viver no campo para descobrir que há uma galinha dentro de cada um de nós.
O grande problema é que eu era mais do que bipolar. Dentro de mim haviam várias vozes animalescas a lutar pelo seu lugar ao sol.
A professora voltou a pedir-me para imitar mais animais. Inclusive me chamou ao centro da sala para que eu mostrasse a toda a turma como era imitar um porco, relinchar como um cavalo...ou imitar uma galinha. Toda a turma se ria e eu morria de vergonha.
Nos dias de hoje farto-me de rir.
Quem me dera ter novamente a oportunidade de apresentar uma música assim como aquela nos dias de hoje. Penso que a originalidade me superaria aos pontos.

Aquele fatídico dia em que fui confundida com a namorada de um larilas qualquer

Ora cá vai!
Certamente já vos aconteceu em algum momento da vossa vida serem confundidos na rua por se dizer que são muito parecidos com a fronha de A ou B, certo?
Pois comigo também já aconteceu.
Gosto sempre de me lembrar daquele dia, quando eu ainda andava no ciclo, e saía da escola para comprar algo melhor para comer do que a comida da cantina. Havia um supermercado mesmo ali perto e por isso decidi ir com duas amigas minhas.
Compramos o nosso almoço e resolvemos ficar sentadas no parapeito do supermercado a comer.
Foi então que vejo uma senhora, certamente na casa dos 50, com um monte de sacos de compras, óculos de garrafão e um enorme sorriso na cara. Ao seu lado, estava o Zé. Sim, ainda me lembro que era o Zé, porque foi assim que a dita senhora o tratou, logo assim que nos vimos.

Olha Zé! É a namorada do nosso Carlinhos!

Ok! Eu juro que não sei ainda hoje quem é o Carlinhos. Também não vou escrever uma carta a uma dessas cartomantes ou a programas televisivos para saber quem era o Carlinhos. O que sei até ao momento, é que o suposto Carlinhos era filho daquela senhora, que estudava na mesma escola que eu, e que devia de ser um encalhado como nunca vi outro, a julgar pela fotografia que a senhora me mostrou dele.

"Ai Zé, olha lá que linda é a namorada do nosso Carlinhos! Ai filha, escolheste tão bem o teu namorado. Ele é tão bom rapaz e vai fazer-te muito feliz. 
Nós temos montes de terras e casas espalhadas de norte a sul e tu vais adorar"

Eu só olhava para as minhas amigas, que se riam sem conseguir disfarçar. Aquilo estava a ser irónico e eu por mais que tivesse tentado dizer à senhora que nunca vi tal Carlinhos, foi uma missão impossível. Ainda me mostrou uma fotografia da pobre criatura, com um sorriso com aparelho, cabelo semi-ruivo completamente despenteado, com aquele ar de quem tinha acabado de acordar e tirado aquela foto e, para colocar a cereja no topo do bolo, um par de óculos que garrafão gigantes e com as lentes amarelas, camisa aos quadrados e ar de cientista chanfrado. Medo! Tive muito medo!

A minha querida suposta sogra (lá nos mais deleitados sonhos da senhora) foi tão querida, ao ponto de tirar de um dos seus sacos de compras, uma embalagem de Ferrero Rocher. Disse que era a primeira prenda dela para mim! Aceitei e agradeci, com o sorriso mais natural que conseguir, despedi-me mais as minhas amigas, que iam rindo entre elas a potes, e fomos para a escola.

Já na entrada da escola, assim que ponho um pé no recinto escolar, só escuto um carro a buzinar, as minhas amigas a rir de novo e aquela vozinha lá do fundo que gritava "Então princesa, vais estar com o teu Carlinhos?" 
Olhei para trás, acenei para ver se me via livre da madame "El ócle alla Garrafón", e nisto vejo um calhambeque branco, já nem devia ter suspensões ou a revisão em dia, e a dita senhora completamente desesperada por chamar a atenção.

"Olha querida, agente não tem só este carro. Temos muitos outros e muitas terras!"  Uau que máximo! Corri para dentro da escola e levei o dia a ser chamada de amada do Carlinhos!
Ainda hoje me pergunto se aquele incidente foi confusão, ou se o Carlinhos viu a minha foto e a foi mostrar à mãe dizendo que tinha desencalhado.
Lógico que aquele alarido todo era pura e simplesmente uma triste chamada de atenção. Eu acho que a madame "super gafas" estava completamente desesperada por arranjar um parzinho romântico para o "Oclenstein" do filho dela e quem mais se não eu? Claro, como não podia deixar de ser!

E já agora, para quem não sabe, gafas quer dizer óculos em espanhól. Embora eu hoje ache que aquelas gafas eram o projeto do que hoje são os óculos 3D. Mas não passa de uma teoria sem comprovativo.