Bem vindos ao meu blog. Aqui escrevo o que penso, o que me apetece e o que bem entendo. Fiz-me entender? Nem por isso? É complicado exemplificar. Puxai uma cadeira. Comei pipocas e ride! Sim...riam muito porque tristezas não pagam dívidas.



quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

A outra

Quando se está numa relação e as coisas correm lindamente, sabe sempre muito bem.
No entanto, há sempre alguma coisa a empatar a paciência, especialmente a minha. Sim, pois, porque estou falando de mim.
O meu namorado, tal como qualquer usuário no facebook, tem sempre aquele amigo ou amiga com quem fala mas que nunca conheceu.
Certa noite, enquanto víamos um filme, apareceu do nada, A Outra só porque sim, para falar da temática a que nós mulheres chamamos de dar palha ao burro.
A dado momento da conversa, a outra começa com conversas lindas e primaverís dizendo que o queria conhecer um dia, e a quem o fazia feliz, neste caso eu. Achei aquilo tão comovente, mas não sei como as lágrimas não me desciam, e fiquei com a ideia de que a outra poderia estar interessada em rapazes que estão numa relação.
O meu namorado lia-me a conversa e estava tudo muito ok para ele, mas eu ia ficando com a sensação de que a outra se estava a meter onde não devia. E eis que surge a prova dos 9.
A dado momento, a meio de um filme que juntos víamos enroscados, a outra pergunta ao meu namorado como ele está com uma frase estilo isto:

Então como estás amor?

Espera lá aí...AMORRRRRRRRR????
Sim, admito que nesse momento essa dondoca cibernética nunca antes vista virou o meu ódio de estimação. Para já sabia ela que o suposto amiguinho virtual dela tem namorada, e depois ainda teve a coragem de o chamar de amor...
Levei algum tempo a digerir a situação, acabando o meu namorado por apelar a que ela não o tratasse daquela forma e dando o recado de que eu também não gostava daquela situação.
No meio da conversa a menina diz que eu não tenho que me preocupar porque é lésbica.
Bem, o meu namorado até se riu no momento dizendo que não sabia e que não sabia bem o que lhe havia de dizer, ficando o assunto por ali.
No entanto, algo me dizia que não era bem assim e que aquilo foi tudo conversa para sair bem na fotografia. Mais uma vez não me enganei.
Certa noite, no meio de uns beijinhos, surge de novo a outra com um olá no facebook, e com aquela converseta rançosa de meter nojo que ele agora é que estava feliz porque encontrou a outra metade e blablablá. Aquilo sinceramente já me começou a encher os miolos e prometo que da próxima que ela venha com essa teoria de que "agora é que tens a tua metade, gostava de te conhecer a ti e a quem te faz feliz", eu vou virar agente secreta e saber onde ela mora para lhe perguntar pessoalmente se por acaso não tem outro assunto. Bem, continuando esta conversa que de interessante não tem nada, a menina lá disse ao meu namorado que estava em Lisboa vendo miúdas giras. Tudo muito bem. No entanto, subitamente disse: "Eu gosto de raparigas, mas também gosto de rapazes...mas deixei-me disso, só tive azares ou desgostos ou o raio que me parta".
Isto por outras palavras soa a algo como "espero que a tua namorada não esteja aí mesmo ao lado para te dizer que só inventei ser lésbica para ela não me matar com uma chave de fendas e fica sabendo que te estou dizendo que gosto de rapazes para saberes que gosto de ti e que disse que me deixei disso para ver se tu tens interesse...vê lá se reparas nisso por favor porque me sinto desesperada e se as coisas continuarem assim eu de tão desesperada que estou vou ao programa da Júlia dizer que sou bissexual para tu me veres em direto".
Preciso eu dizer mais alguma coisa?
Acho que não. Só escrevi a porcaria deste post para dizer que eu tenho uma pontaria para tudo o que não vale a pena, como o caso da outra. No entanto eu nunca acertei no euromilhões...mas eu também não me posso queixar porque eu não aposto no euromilhões.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Estar Apaixonado/a

Sabe tão bem quando sentimos que gostamos de alguém de uma forma especial.
É um sentimento que nos transforma e nos faz querer viver as coisas de forma mais intensa.
Subitamente tudo muda à nossa volta e parece que o vento sopra a nosso favor.
Aquilo que era a preto e branco ganha cor e a Primavera chega mais cedo aos nossos corações.
É bom gostar de alguém e sentir esse sentimento ser-nos retribuído da mesma forma.
Amar alguém é um estado de alma renovador e que cura muitos dos nossos males, resolve muitos dos nossos problemas.
Por mais complicado que possa ser o mundo à nossa volta, é bom saber que existe aquela pessoa que nos ampara e nos estende a mão quando precisamos. Amar é cuidar, é ter preocupação pelo outro, é desejar ao outro o mesmo que desejamos a nós mesmos.
Amar é bom.
O amor é realmente uma coisa boa que se sente e não se explica.
No fundo nunca saberei eu mesma explicar o que é o amor.
Por mais que tente, nunca encontrarei palavras que o definam.
O amor é querer estar junto, é cuidar e preservar, é estimar e amparar. O amor é ver as virtudes e os defeitos, conviver com ambos e perceber que não há ser humano algum completamente perfeito, saber viver com isso.
O amor é o que nos move a ir mais além. Quando é amor inteiro, amor saudável, aquele amor que sabemos que nos faz bem, em que encontramos a pessoa que se encaixa perfeitamente em nós, é também uma oportunidade de podermos ser nós mesmos, de descobrir coisas em nós que nem sabíamos que existiam.
Sabe tão bem saber que temos alguém para cuidar, alguém a quem podemos devolver um sorriso cúmplice.
Sabe bem amar quando somos amados da mesma forma.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Meditando

Por vezes, sento-me no exterior da minha casa a apreciar o luar.
Gosto de ver a luz brilhante e inventar desenhos no céu com as estrelas.
Descrevo criaturas místicas com as nuvens, ou simplesmente fecho os meus olhos e deixo-me embalar pela brisa da noite.
Nesse tempo, em que tudo e nada acontece, deixo-me simplesmente ficar fazendo tudo e nada. Fazendo nada é fazer alguma coisa. Por isso, deixo-me ficar e observo esse facto.
Depois, aproveito e penso nas minhas últimas decisões. Penso no que fiz ou poderia ter feito.
Tantas as coisas que podiamos fazer se fosse tudo diferente.
Já não sou nenhuma criança, nem adolescente, mas cometo erros.
Há erros de menor grau, outros de maior.
Alguns desses meus erros, admito, ocorrem pela minha simples ingenuidade. O meu lado adormecido.
Admito que gosto de ter um lado adormecido dentro de mim. Esse lado adormecido faz-me viver a vida sem grandes preocupações a alguns detalhes.
No entanto, deixo entrar no meu espaço todo o tipo de situações. Depois, mais tarde, observo as coisas e vejo que não foi correto.
Ultimamente foi assim. Errei. Não foi um erro grave. Foi apenas um erro ocasional, daqueles que vimos mas que não ligamos.
Podemos não ligar por não nos querermos desequilibrar com más energias, ou simplesmente para não alastrar mais a situação. Foi isso que fiz. Ignorei, deixei andar, como se diz.
Deixei andar tempo demais e acordei um pouco tarde. Depois, escuto todo o tipo de observações.
Observações da minha cabeça e observações das pessoas que estão de fora, que acabam por querer julgar a situação sem o menor conhecimento daquilo que sou. É por vezes, por deixar andar o barco, que erro. Aprendi, sentindo a brisa da noite e meditando acerca do assunto, que não se deve deixar o barco andar tempo demais. Quando não gostamos de uma situação, como foi o meu caso, devemos simplesmente travá-la, não deixar criar falsas esperanças ou dar espaço para que alguém pense que tem algum tipo de oportunidade na nossa vida. Não o fiz por já o ter feito, de certa forma. Mas depois, eis que tornou a acontecer. Foi então que decidi ignorar.
Foi então que tudo se agravou.
Por isso, e admito, se alguém aqui tem culpa, esse alguém sou eu. Sou humana. Erro mesmo sem querer. Erro sem pensar. Na verdade nem sei porque errei. Deixei o erro acontecer.
Não me posso lamentar agora, com o erro já ocorrido.
Como já disse, a ingenuidade dá lugar a todo o tipo de oportunistas. Mas agora não.
Agora meditei, refleti e decidi o que pretendo para a minha vida. Pretendo simplesmente não voltar a ser assim. Pretendo simplesmente não deixar interferir quem não pretendo. No final de contas, não pretendemos ser objeto de ninguém, ou ceder a todo o tipo de capricho. Dizer não, é muito mais do que uma palavra, uma rejeição. É uma forma de imposição. É uma forma de impor limites ao que não deveria ser trilhado sem autorização.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

A stalker da minha vizinha

Quem é que nunca tem ou teve uma vizinha que é melhor fonte de informação que o telejornal da Sic?
Se ainda não têm uma, roam-se de inveja, porque como a minha, de certeza que não é.
Conheço-a desde que nasci.
Mostra-se sempre muito simpática, mas não passa de um esquema falhado de camera do Big Brother em território Algarvio.
O nome dela ( dado por mim neste espaço) é a J.
A J é uma velhota solitária que antigamente fechava a porta a tudo e a todos. Hoje, viúva e completamente sozinha, pede a tudo e a todos que lhe abram a porta...mas ninguém o faz.

Mas porque será?

Porque ninguém lhe precisa de dizer em primeira mão o que ela supostamente já sabe de antemão.
Os seus dias são passados virada para a janela, com as mãos na cortinas da cozinha, vendo todo o carro que se estaciona em frente do prédio, toda a peça de mobília que entra escadas acima, enfim, tudo da vida de toda a gente que vive no mesmo prédio.
Como já era de calcular, eu não poderia ser exceção.
Quando venho do trabalho e meto a chave na porta, eis que olho para a minha esquerda e vejo surgir aquela cabeleira cinzenta, espetada mesmo ao estilo Heavy Metal, com os seus óculos redondos e brilhantes, acompanhados da dentadura quase a saltar, com restos de folha de alface ao alcance do olhar mais miupe.
Caso tenham uma vizinha com os mesmos sintomas, cuidado, pois pode virar uma J a todo o momento!

Um certo dia, a pobre senhora deu-se ao trabalho de tocar à campainha de minha casa. Como já era de calcular, eu não lhe abri a porta.
Se eu disser que a criatura levou uma hora parada junto da porta, não estou a mentir. Mas essa hora não foi apenas passada em frente da porta. Essa hora foi passada com o ouvido encostado na porta, a baixar-se para tirar o tapete e ver por baixo da porta, mandar uns quantos traques que até eu dentro de casa os pude sentir, e tocar tanto à campainha que ia ficando surda.
Por fim desistiu. Lá colocou o dito tapete no local, deu a sua última espreitadela e foi descendo calmamente, certificando-se que a placa dentária continuava no mesmo sitio.

Em menos de dois dias, assim que me viu na rua, foi logo dizer-me que sabia que eu estava em casa.
Mais um motivo para ter virado costas e ter ido à sua vida de detetive dentro de casa. Ninguém é obrigado a abrir a porta quando não se quer.

Além do mais não pretendo abrir uma segunda vez a porta a uma mulher que, mal me mete um pé dentro de casa, este é acompanhado com o som de um peido, que vem seguido por tantos outros até se sentar no sofá.
E como se isto fosse pouco, ainda a confrontei com a situação, mas a única coisa que me soube dizer foi "Se tenho vontade lagozje".

Deduzo que a dita senhora tenha uma pontada de solidão crescente dentro de si, tão grande que já se enrola nos intestinos.
No entanto, eu não tenho escrito na testa Assistente social de lar de terceira idade. E nem pretendo. Pelo menos não para já!

Há uma quinta oculta dentro de mim

Cada um com o seu talento.
Uns descobrem-nos cedo demais, outros bem tarde.
O meu talento foi descoberto algures numa aula de música de 5º ano, quando a minha professora decidiu que, cada nota musical iria corresponder ao som de um animal.
Lembro-me da minha mente ganhar asas nesse preciso instante.
E o resto foi conversa...
A sala tinha as mesas em U e eu estava nervosa por chegar a minha vez de apresentar.
Os meus colegas fizeram a sua música mas, a jurar pela cara da professora, as coisas não estavam de todo apelativas.
E nisto chegou a minha vez...

Tudo começou com o cantar de um galo, que ainda hoje penso sabe-lo fazer na perfeição. Depois seguiram-se dois porcos, um cão, um gato e um sapo. Acho que ainda houve espaço para um burro, dois ratos, um cavalo e um pato.

Como podem ver, uma quinta completa.
Quando terminei, lembro-me de olhar para a minha professora e dela me dizer:
"Muito bem Tânia. Vive no campo?"

Só me lembro de sorrir completamente tímida e de dizer: "Obrigada. Não, vivo na cidade".

Não precisamos viver no campo para descobrir que há uma galinha dentro de cada um de nós.
O grande problema é que eu era mais do que bipolar. Dentro de mim haviam várias vozes animalescas a lutar pelo seu lugar ao sol.
A professora voltou a pedir-me para imitar mais animais. Inclusive me chamou ao centro da sala para que eu mostrasse a toda a turma como era imitar um porco, relinchar como um cavalo...ou imitar uma galinha. Toda a turma se ria e eu morria de vergonha.
Nos dias de hoje farto-me de rir.
Quem me dera ter novamente a oportunidade de apresentar uma música assim como aquela nos dias de hoje. Penso que a originalidade me superaria aos pontos.

Aquele fatídico dia em que fui confundida com a namorada de um larilas qualquer

Ora cá vai!
Certamente já vos aconteceu em algum momento da vossa vida serem confundidos na rua por se dizer que são muito parecidos com a fronha de A ou B, certo?
Pois comigo também já aconteceu.
Gosto sempre de me lembrar daquele dia, quando eu ainda andava no ciclo, e saía da escola para comprar algo melhor para comer do que a comida da cantina. Havia um supermercado mesmo ali perto e por isso decidi ir com duas amigas minhas.
Compramos o nosso almoço e resolvemos ficar sentadas no parapeito do supermercado a comer.
Foi então que vejo uma senhora, certamente na casa dos 50, com um monte de sacos de compras, óculos de garrafão e um enorme sorriso na cara. Ao seu lado, estava o Zé. Sim, ainda me lembro que era o Zé, porque foi assim que a dita senhora o tratou, logo assim que nos vimos.

Olha Zé! É a namorada do nosso Carlinhos!

Ok! Eu juro que não sei ainda hoje quem é o Carlinhos. Também não vou escrever uma carta a uma dessas cartomantes ou a programas televisivos para saber quem era o Carlinhos. O que sei até ao momento, é que o suposto Carlinhos era filho daquela senhora, que estudava na mesma escola que eu, e que devia de ser um encalhado como nunca vi outro, a julgar pela fotografia que a senhora me mostrou dele.

"Ai Zé, olha lá que linda é a namorada do nosso Carlinhos! Ai filha, escolheste tão bem o teu namorado. Ele é tão bom rapaz e vai fazer-te muito feliz. 
Nós temos montes de terras e casas espalhadas de norte a sul e tu vais adorar"

Eu só olhava para as minhas amigas, que se riam sem conseguir disfarçar. Aquilo estava a ser irónico e eu por mais que tivesse tentado dizer à senhora que nunca vi tal Carlinhos, foi uma missão impossível. Ainda me mostrou uma fotografia da pobre criatura, com um sorriso com aparelho, cabelo semi-ruivo completamente despenteado, com aquele ar de quem tinha acabado de acordar e tirado aquela foto e, para colocar a cereja no topo do bolo, um par de óculos que garrafão gigantes e com as lentes amarelas, camisa aos quadrados e ar de cientista chanfrado. Medo! Tive muito medo!

A minha querida suposta sogra (lá nos mais deleitados sonhos da senhora) foi tão querida, ao ponto de tirar de um dos seus sacos de compras, uma embalagem de Ferrero Rocher. Disse que era a primeira prenda dela para mim! Aceitei e agradeci, com o sorriso mais natural que conseguir, despedi-me mais as minhas amigas, que iam rindo entre elas a potes, e fomos para a escola.

Já na entrada da escola, assim que ponho um pé no recinto escolar, só escuto um carro a buzinar, as minhas amigas a rir de novo e aquela vozinha lá do fundo que gritava "Então princesa, vais estar com o teu Carlinhos?" 
Olhei para trás, acenei para ver se me via livre da madame "El ócle alla Garrafón", e nisto vejo um calhambeque branco, já nem devia ter suspensões ou a revisão em dia, e a dita senhora completamente desesperada por chamar a atenção.

"Olha querida, agente não tem só este carro. Temos muitos outros e muitas terras!"  Uau que máximo! Corri para dentro da escola e levei o dia a ser chamada de amada do Carlinhos!
Ainda hoje me pergunto se aquele incidente foi confusão, ou se o Carlinhos viu a minha foto e a foi mostrar à mãe dizendo que tinha desencalhado.
Lógico que aquele alarido todo era pura e simplesmente uma triste chamada de atenção. Eu acho que a madame "super gafas" estava completamente desesperada por arranjar um parzinho romântico para o "Oclenstein" do filho dela e quem mais se não eu? Claro, como não podia deixar de ser!

E já agora, para quem não sabe, gafas quer dizer óculos em espanhól. Embora eu hoje ache que aquelas gafas eram o projeto do que hoje são os óculos 3D. Mas não passa de uma teoria sem comprovativo.

terça-feira, 29 de março de 2016

Carta de uma mãe de olhão

Atão filhe, qué qu'andas fazende?
Já fostes no bálhe?
Ontém fu com tê pai, majele na tava lá munte bem disposte, atão virê as costas e dei de frosques.
Aqui em Olhão tem tade munte mal tempe. Na semana passada fez tante vente qu'a galinha da Manela pôs o mêm ove três vezes.
Apanhê cá um suste quande vi aquile, que quá que ia cainde das escades abáche.
No funde, até ache qu'u tê pai tamém viu o mêm, majele na disse a porra!
Iste anda tude perdide filhe!
Trabalhe fêta maluca e na ganhe quase nada. Na sê aonde vames assim com este governe.
Ache que até a Floripes viu isse tude antes dagente todes, e por isse é que deu de frosques lá pelo alte mar! Majatão...iste sô ê pensande alte!
Atão e tu moce marafade? Qu'e qu'andas fazende?
óvi dizer que andas com uma moça aí da zona de Quarteira, majiss é mêm verdad?
Tu vê lá com quem te metes, se nã tê pai ainda fica marafade!
Boum, cá me despece, agora que fá um bocadinhe de calôr, vô aprovetar e comprar um pêxe pó tê pai ali no mercade, na vá ele dizer que só vive na rua pa óvir o diz que diss...ó que só quer é balhe e música fêrantã!
Porta-te com Juízzz!

Da tu mãe
Jacinta

Como manter uma conversa simpática com as testemunhas de Jeová

Caros leitores;
Se ainda não tiveram a oportunidade de se cruzar com as famosas testemunhas de Jeová, fiquem sabendo que elas andam aí.
Por isso, façam um bom rastreio à visão, comprem uns bons óculos, porque nem sempre essas simpáticas criaturas são detetáveis a olho nu.
Por norma, tenho um íman para atrair sempre aquilo que não pretendo, e as testemunhas de Jeová parecem conseguir detetar esse íman a metros de distância, pelo que me aparecem sempre com um sorriso de orelha a orelha com aquele papelinho amarelo ou azul com os ensinamentos da Bíblia.
Antigamente não se via muita publicidade religiosa com tanta frequência como hoje, pelo que já me acostumei e aprendi a ver de longe tais criaturas amorosas só pela indumentária que usam.
Estas "almas andantes da salvação do Reino de Deus" costumam andar de saia pelos joelhos, em tons de castanho ou preto, casacos pela cintura ou abaixo dela, pastas e malas de mão carregadas de revistas com os dizeres do Senhor e adoram colocar-se naqueles locais de maior circulação, para poderem abordar o maior número de pessoas possível. Antigamente faziam-no de forma discreta. Nos dias de hoje trazem um trólei repleto de livros e revistas, panfletos e todo o tipo de coisas para salvar-nos a todos das garras do Diabo.
Nunca fui uma pessoa que fosse criada no meio do fanatismo religioso, por isso respeito toda e qualquer crença religiosa. No entanto acho de uma extrema falta de respeito esta publicidade feita em torno da Bíblia e seus dizeres, além do apelo para frequentar os famosos salões, que têm ar de tudo, menos de cabeleireiro.
No outro dia, enquanto fazia voluntariado numa qualquer rua de Tavira, fui abordada por duas simpáticas senhoras, que amavelmente começaram a interromper o meu louvado trabalho, para me apelar a ir a um desses Salões e ler sobre a palavra do Senhor.
Não sei se estava inspirada, mas a verdade é que deu mais efeito do que eu esperava. Por isso, daqui para a frente, penso que irem adotar essa converseta para diálogos futuros.
Eis o que aconteceu:

TJ: Boa tarde menina, gosta de ler?
Eu: Boa tarde, gosto sim!
TJ: Então tenho uma oferta para si (panfleto das testemunhas de Jeová)
Eu: Obrigada, é para mim? Não é costume me darem nada! ( ironicamente falando)
TJ: Sabe quem criou o mundo?
Eu: Não sei minha senhora, nessa altura eu ainda não tinha nascido.
TJ: Foi Jeová querida! Não acredita em Jeová?
Eu: Pois ele nunca se apresentou a mim e eu não costumo dar confiança a pessoas desconhecidas.
TJ: Está a dizer-me que não acredita??? (Indignação extrema)
Eu: Lógico! Se Jeová não me apareceu diante dos olhos, quer que acredite no que não vejo?
TJ: Jeová é quem irá ressuscitar todos os mortos e pessoas queridas que perdemos. Acredita que os mortos irão voltar à vida?
Eu: Pois nessa altura também já cá não estarei para ver...
TJ: Eu vou ser mais específica consigo! Afinal...quem construiu tudo isto ao seu redor? (Abre os braços apontado para todos os prédios e casas em redor)
Eu: Oh minha senhora, essa sei responder! Foram os pedreiros, ora essa!!! Eles e os arquitetos fizeram um ótimo trabalho não acha?

Dito isto, viraram as costas e foram andando.
Não sei porquê, mas naquele momento deu-me uma pontada de tristeza saber que as ditas senhoras ali presentes não quiseram continuar a nossa conversa tão religiosa. E logo agora...que aquele dedinho de diálogo estava a começar a mudar os meus ideais religiosos. Estive quase a pensar em me converter e tudo...mas não tive oportunidade! Não faz mal...da próxima que me perguntem se gosto de ler, irei certamente referir as obras das 50 sombras de grey ou algo do fórum erótico. Nunca se sabe o que poderei descobrir sobre Jeová...afinal de contas, continuo sem o ver e nem o que faz da vida. Se foi o criador da terra, a esta hora deve ter cometido o suicídio numa rua qualquer de crime ao ler os cabeçalhos dos jornais e ter visto o telejornal da TVI.
Ou então frequenta uma cartomante ou espírita para poder ter a inspiração necessária para uma segunda criação, onde, certamente, poderá concluir com êxito um projeto melhor do que aquele que somos.


Coisas que, por mais que os anos passem, não mudam em mim (e nem pretendo que mudem)

Talvez eu tirasse o resto da tarde de hoje para me dedicar a uma boa dose de filosofia e escrever aqui algo completamente filosófico, mas não é o meu forte.
Podia vir falar dos passarinhos que voam em frente da janela do meu quarto enquanto escrevo este post e filosofar sobre eles, mas não me apetece lá muito.
Por isso aqui vai o que me ocorreu, e porque sim!

Aquelas coisas que o passar dos anos não elimina de mim!

Repetir o mesmo erro 3 vezes, porque à terceira é de vez!
É verdade. Consigo cair no mesmo erro três vezes sem saber ao certo o motivo e sem me questionar mais tarde. Talvez seja uma dádiva que poucos tenham.
Conseguir ser excessivamente sarcástica de vez em quando!
Pois é. Talvez um dos meus lemas de vida seja "Se não tens pena de mim, porque motivo tenho eu de ter de ti?" E costuma resultar. Pelo menos a partir do momento em que o experimentei e percebi que realmente funciona. Afinal de contas, penas têm as galinhas e...se não digo o que penso, não acredito que o vão dizer por mim.
Planear aquele exercício físico que nunca se concretiza!
Outra das minhas grandes habilidades, talvez a melhor de todas nesta lista. Gosto sempre de pensar que amanhã estará um ótimo dia para exercitar um pouco as pernas ou tirar a ferrugem, mas nunca, ou quase nunca, concretizo o plano. O motivo deve ter uma relação qualquer com a ideia de que ficar é casa a fazer nada é sempre melhor. E esta última ganha! Além do mais gasto mais calorias a pensar e quando dou por mim já me sinto exausta!
Ser otimista e pessimista at the same time!
Não sei como é que consigo fazer, ou ser, as duas coisas em simultâneo, o que me irrita profundamente. Talvez seja genético, mas a verdade é que, perante uma situação qualquer, consigo desesperar e de uma hora para a outra achar que tudo tem solução. É algo impressionante em mim, porque ao mesmo tempo que tudo está negro, tem uma luz no fundo do túnel.
Aracnofobia crónica acentuada!
Sou capaz de matar qualquer bicho, desde baratas, osgas, melgas, mosquitos...ou o que tiver de ser se a necessidade assim o ditar, mas quando vejo uma aranha, i loose my mind! Especialmente se forem grandes e peludas como já tive o prazer (ou desprazer) de encontrar por aí.
Não entendo porque raio ainda não venci esta fobia. Suspeito que em outra encarnação tenha sido uma tarântula citadina, mas é apenas uma teoria sem comprativo. Além do mais, regressão e hipnose não atraem o meu interesse.

E depois desta pequena lista, vão ficar todos a pensar que bebi alguma coisa fora do prazo, ou que tenho alguma coisa na cabeça. No entanto fiquem descansados, só bebi água e está no prazo de validade e além do mais chapéus, bonés ou outros acessórios não fazem muito o meu estilo. Pelo menos hoje não tenho nenhum posto. Amanhã quem sabe.

Dito isto fico por aqui. Vou ler, ou talvez outra coisa que me apeteça, rir de mim mesma porque sim e talvez acrescentar à minha lista de coisas que não mudam.
Não sei porque escrevi sobre esta temática, mas é como tudo. Foi um ar que me deu.

Limpando o lixo

Hoje na minha casa foi dia de limpezas daquelas porcarias que teimamos em guardar só porque sim, mas que mais tarde acabamos por constatar que não nos fazem falta alguma.
Normalmente gosto de colocar uma boa música e abrir assim os baús das recordações nos confins do meu quarto.
Durante a minha busca pelo desnecessário fui encontrar algumas fotografias e coisas que guardei (não me lembro o porquê) de uma relação qualquer que tive há uns anitos atrás.

Começando a relembrar...

Ele era o X (nome que inventei para o referir). O X foi o motivo pelo qual criei este blog.
Conheci o X na época da Universidade. Não éramos do mesmo curso, mas estudávamos nas faculdades vizinhas. O X tinha um amigo, que era o Y. Nunca os vi conviver com outras pessoas e circulava na época o boato de que eram gays.
Por circunstâncias da vida, eu e a minha amiga ficamos amigas do X e do Y.
Passado pouco tempo eu e o X começamos a namorar.
Era bom conviver com o X, porque era daquelas pessoas que não conseguia ter outras conversas tirando as do fórum badalhoco, que me faziam sempre rir e descomprimir. Além disso o Y também tinha uma vertente humorística grande e assim, éramos o quarteto mais risonho da Universidade.
Ambos estudavam Engenharia Informática, mas não se achavam no curso certo.
A dado momento da minha relação com o X, as coisas mudaram e senti um distanciamento qualquer.
Como na altura eu não sabia muito bem o que se passava, resolvi criar este blog para escrever em forma de poesia ou prosa os meus sentimentos e as minhas angústias.
Enquanto isso acontecia, o Y resolveu criar um passatempo qualquer dizendo ao X que eu não era quem parecia.
E assim se criou a teoria de eu ter duas vida paralelas algures no imaginário do Y e mais tarde do X.
Foi assim que o X resolveu inventar que seria melhor cada um seguir a sua vida, conversa que admito hoje que demorei a assimilar na minha cabeça, porque aprendi a gostar muito do X. Cest la vie...Cada um com o seu Karma.

Depois do X e eu nos separarmos, o Y começou a bombardear-me com ameaças de vingança meio ao estilo da pré escolinha, quando uma criança de vinga da outra porque lhe roubou o lápis ou lhe derramou o sumo para cima. E assim foi.
O Y arranjou assim um passatempo mais divertido do que o seu (na época em que tudo se passou) namoro virtual com uma brasileira qualquer. O novo passatempo do Y era entrar nas minhas contas, roubar as passwords e andar para lá entretido e divulgar o meu e-mail e da minha amiga nos chats só para se sentir feliz e fazer elevar o seu ego ao limite.
Por outro lado, eu não estando feliz com a brincadeira, confrontava-o, sem sucesso. As coisas não se resolviam frente a frente segundo o Y, mas sim pela tela de um computador, motivo pelo qual preferia sempre os ratos às ratas, termo este que até o X concordava.
Adiante com isto, o Y aliciou o X e assim partiram eles na sua jornada pela vingança infantilóide contra a minha pessoa e a minha amiga. Entravam nos nossos mails, nos nossos facebooks, em tudo o que mais podiam e diziam-se donos da verdade.
Por outro lado eu tentava recompor-me e pelo caminho ia cometendo as minhas asneiras, pensando assim que, se ficasse próxima do X, talvez tudo pudesse acabar bem.
As coisas nem sempre são como pensamos e eu, naquela altura, preferia iludir-me do que enfrentar a realidade.
O meu blog começou a ser um poço de indiretas ao X e por sua vez, o X respondia indiretamente no seu blog. Como eu me sentia bem em dizer umas coisinhas más de vez em quando. Mesmo sem entender o porquê, lá soltava a inspiração. Digamos que era a minha forma de aliviar e digerir as coisas, embora não fosse de todo a mais feliz.
Mais tarde passei-me completamente mais a minha amiga e apresentamos queixa na polícia por invasão à propriedade privada, considerado crime semi-público e que arquivamos pouco tempo depois, simplesmente porque não valia o esforço.
Foi uma situação um tanto complicada para mim, mas que hoje me provocou um alto ataque de riso ao dar de caras com aqueles dois cenários saídos de um filme de comédia.

Enfim...
O tempo passa e lá foi o X e o Y para o caixote do lixo.
Fiz-lhes adeus esperando que se encontrem bem. Talvez hoje o X tenha encontrado o seu príncipe encantado e tenham decidido adotar uma criancinha qualquer.
Quanto ao Y, em tempos tive o prazer de me cruzar com ele na rua. Ia de fatinho. Possivelmente fundou uma empresa de detetives privados, porque a sua especialidade sempre foi mais essa do que tirar boas notas no curso.
Não guardo mágoas nem ressentimentos. Não guardo simplesmente nada em relação ao X e ao Y. Passado é jornal de ontem. Depois de usado e lido, acaba sempre no contentor. E foi o que hoje aconteceu, enquanto limpava o meu quarto. Porque para lixo, já há que baste nos aterros sanitários. Além disso, há uma frase que o X um dia me disse, talvez uma piadola frustrada, dizendo que precisamos cair para nos levantar. E é verdade.
Não foi uma história da Disney, não fui sempre correta, admito os meus erros e sei que podia ter calado muito do que deitei para fora. A raiva do momento faz-nos dizer coisas que no fundo não queremos.
No entanto aprendemos sempre com isso.
Aprendi que não sou a pessoa que demonstrava na altura, que não podemos forçar o sentimento de ninguém, ou a sexualidade de ninguém como no caso do X, que o que lá foi, já lá vai. Podemos sofrer um pouco no início mas depois passa e foi isso que aconteceu.
Passou tudo. No momento em que revi aquelas fotografias, percebi que foi tempo perdido com tolices e infantilidade. Infantilidades minhas por me iludir e querer ficar bem com o X, infantilidade das duas vedetas por se quererem vingar sabe-se lá do quê.
Caí mas lá me levantei e hoje...(que é algo que acontece sempre a nós mulheres) ainda me perguntei o que foi que eu vi de tão especial no X, porque sinceramente não encontrei ali nada. É assim, todos amamos uma ideia em algum momento...e depois desamamos para voltar a amar mais forte no futuro a quem devemos amar. E além do mais nem sempre gosto de ser agradável mesmo com lembranças da carochinha. Gosto sempre de ser desagradável em algum momento, afinal, se não disser as coisas que penso, mais ninguém as diz.

terça-feira, 22 de março de 2016

Coisas de família

Faz muitos anos que não vou a Corroios visitar as minhas tias. É algo que me faz muitas saudades.
No entanto, costumamos falar muito pelo telefone.
Sempre que telefonam para mim, acabo levando com uma bela dose daqueles típicas de tia preocupada e que se resumem a qualquer coisa como:

"Então filha, já namoras?"- Esta é a conversa de topo das minhas tias. Por mais que lhes diga que sim, que continua a ser a mesma pessoa de há mil e quinhentas chamadas atrás, nada melhor do que saber, certificar e ter plena certa que o Alzheimer não faz parte da nossa família.

"A tua mãe diz que estás magra"- Sim! O termo magra não é apenas uma preocupação de muitas mães galinha, mas também das minhas tias. Por mais que eu coma, faça todas as refeições do dia e ainda petisque e aquelas coisas todas muito lindas, para as minhas tias estou sempre magra. Nem quero imaginar então o que significa magra naquelas cabecinhas.

"Tens de descansar mais, filha"- Pois é. Todos nós temos de descansar mais. Afinal de contas, o trabalho faz parte da rotina diária de qualquer pessoa, pelo menos que eu saiba. No entanto, as minhas tias acham sempre que trabalho muito e que tenho que ter cuidado comigo, não se dê o caso de, como estou muito magra, qualquer dia me confundir com um alfinete perdido no palheiro.

"Bebe muita água e cuidado com o sol filha"- É uma grande verdade. Eu trabalhei em locais onde estava muitas vezes exposta ao sol. Sei também que é a preocupação alla titia que se eleva mais alto.
No entanto, eu tenho noção das consequências e...além disso...já não tenho mais 14 anos.

"Ai filha, no outro dia vi a fulana Y e lembrei-me de ti!"- Quando as minhas tias me costumam "ver", por assim dizer, no rosto de alguém, eu sinto a vaga sensação de que deveria de fazer como aquela gente doida que anda por aí gastando resmas de dinheiro em operações plásticas para parecer a Madonna ou o Justin Bieber. Por norma, quando sou lembrada no rosto de alguém, não costuma ser ninguém propriamente encantador, o que me faz correr para o W.C, olhar-me no espelho e ver se tenho macacos no nariz ou o cabelo com uma madeixa de cada cor. Sim minhas gentes, isto vindo das tias nunca se sabe.

"Atão e já pensas em casar?"- Eu morro sempre de medo de ouvir esta pergunta, mas nunca falha.
Não minhas queridas tias. Eu não penso em colocar a corda ao pescoço e mandar-me de um arranha céus maior que o World Trade Center tendo plena certeza de que ninguém me irá socorrer lá em baixo e que irei ficar mais esborrachada no meio de uma passadeira que uma mosca no mata moscas. Por outros termos...eu não penso em casar. Penso em coisas mais úteis. Penso um dia de cada vez.

Poderia levar dias a abrir mais e mais tópicos sobre estas coisinhas todas que só as tias sabem perguntar/dizer, mas não me recordo de mais nada. De certeza que irei lembrar-me de algo já depois de publicar este post, mas que se lixe.
Gosto muito das minhas tias e daria o meu dedo mindinho para matar saudades. No entanto, sei sempre que estas perguntas irão sair na hora, entre outras mais que até tenho medo em pensar.
Da última vez que nos vimos, tinha eu 14 anos, e levei umas calças de ganga super largas, ao que elas me disseram que parecia uma trabalhadora das obras e como é que acabei naquele estado.
Se agora me visse, talvez me perguntassem se eu fazia parte de uma banda de metal qualquer, ou se é mesmo tendência.
Enfiz, está nos genes.


Sinto-me triste

Estou triste
Triste com tudo o que se passa no mundo
Fico triste com os pobres que só gostariam de matar a fome aos seus
E triste com os ricos que só não sabem onde gastar o que possuem.
Estou triste com o mundo
Triste com o terrorismo e com esta sede de matança profunda, repleta de raiva desnecessária.
Estou triste por irmos ficando órfãos de grandes génios que ainda tinham o que dar ao mundo
Triste por grandes génios serem substituídos por aprendizes de feiticeiro.
Sinto-me triste pela falta de compaixão das pessoas, pelo desacreditar do meu povo, pelo julgamento cruel que fazemos ao próximo.
E vivemos todos nesta grande tristeza, passando uns pelos outros como estranhos, todos desacreditando de tudo.
Sinto-me triste pela corrupção política que nos circunda, por o dinheiro ser um pedaço de papel cuja ganância e sede de aquisição move fronteiras e não olha a meios.
Tudo isto me faz triste.
Faz-me triste chegar a casa, ligar a televisão, ver as notícias do que se passa lá fora.
Pergunto-me onde iremos chegar com os nossos corações repletos de ódio e rancor, onde iremos chegar em dizer mal uns dos outros, onde iremos chegar em sermos escravos de um governo que não vê nada além de cifrões.
Entristece-me profundamente a falta de preocupação na preservação do mundo em que vivemos, e das alterações climáticas que essa falta de preocupação provoca.
Entristece-me este egocentrismo profundo que temos, em apenas sabermos ver o nosso reflexo e não querermos saber das necessidades dos demais.
Sinto-me profundamente triste com tudo isso.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Eu tenho o magnetismo mal sintonizado

Por natureza considero-me amiga de conhecer pessoas novas.
Nunca é demais ter alguém para repartir algum momento da nossa vida, seja ele de pequena ou grande importância.
Seja como for, a minha maior tendência é a de atrair cromos ou gente doida.
Ao mesmo tempo que vou fazendo as melhores amizades que alguém pode ter, também vou conhecendo alguns cromos de estimação.
O último caso foi recente e posso, por conseguinte, colocá-lo no topo da lista.
Certo dia o K (nome fictício para não chamar quem quer que seja ao barulho) adicionou-me no facebook. Como eu estava em disposta, aceitei. 
Aos poucos, consoante a disponibilidade, íamos falando e tudo parecia normal. Nunca houve um insulto ou o que quer que seja por parte do K. No entanto, certo dia, vi que o K tinha publicado no seu perfil que enfrentava um desgosto de amor.
Pessoalmente nunca tinha conhecido o K. 
Numa noite não há muito tempo atrás, o K perguntou-me se faria mal encontrar-se comigo e desabafar, porque se sentia em baixo e precisava desanuviar e desabafar.
Disse que sim.
Observei o perfil do K e constatei que não era nenhuma super star estilo Leonardo Dicaprio nos seus tempos de Romeu e Julieta, mas isso pouco interessava, quando o assunto era ajudar alguém a sentir-se melhor.
Eu e a minha mania de querer ajudar que nunca resulta, falam sempre mais alto.
Posso mesmo dizer que é um defeito meu que ainda estou a aprender a controlar.
Chegado o dia, esperei o K que não havia meio de aparecer. A dada altura vejo um rapaz com um ar muito simpático que, de longe se parecia com ele. Fui olhado para todos os lados mas o meu olhar voltava-se sempre para o lado do tal rapaz. Vi que o rapaz também olhava na minha direção e sorria algumas vezes, o que me levou a tomar a iniciativa e perguntar se era o K. Amavelmente, o sujeito simpático disse-me que não. Pedi desculpa e virei costas procurando o K, quando recebo uma chamada e surge, o que me parecia, um pedinte de esmola dos anos 50 aderindo à tecnologia smartphone.
Olhei para o meu telemóvel...este tocava.
Olhei em frente e o estranho pedinte estava ao telefone. Pior que isso, olhava fixamente para mim, como se soubesse que eu lhe ia dar uma moedinha. 
Como se a situação não pudesse piorar mais, constatei que o K era esse sujeito com ar de pedinte.
Diante de mim estava um rapaz raquítico, com boné da loja dos trezentos desbotado e espalmado como um ovo estrelado na cabeça, óculos pretos de sol super fininhos que lhe davam um ar de mosca em corpo de gente, casaco castanho com uma manga subida e outra descida e calças verdes clássicas com a bainha por fazer, que junto dos ténis pretos e rotos faziam uma boca de sino estilo hippie. Mas usava smartphone...e veio cumprimentar-me...
Juro que nesse momento pensei muito na velha frase que "ninguém cruza o nosso caminho por acaso". Estava eu a perguntar-me se ainda me teria que cruzar muitas mais vezes com ele, mas afastei a ideia da cabeça dizendo que iríamos ao nosso café no local mais próximo que encontrei dali, para depois poder fugir mais feliz e ele me perder de vista.

Bem...durante a conversa não há muito que dizer. O K não tinha assunto, falava olhando para a esquerda e para a direita, com a mão esquerda entrelaçada na direita e com os óculos de mosca a tapar-lhe a testa. Quando levava a mão ao boné, pude ver que devia ter no máximo trinta cabelos, para além da barba mal aparada. 
Perguntei-lhe como é que ele estava e sobre a situação do famoso desgosto de amor, que agora me fazia sentido ter acontecido. Ele falava vendo o movimento ao redor dele e nunca olhando para mim, dizendo que a ex namorada era uma parva, que ainda uma outra parva e que gostava muito de encontros, porque era um rapaz engatatão.
Só eu sei, como foi que não me ri daquela peripécia e não deixei a conversa prolongar-se muito além do horário que estabeleci para me ir embora, contando os minutos e revistando a mala para não adormecer de tédio perante um sujeito que me disse ter 29 anos, mas que nem sabia que idade teria quando eu chegasse aos 30.
Não gosto de gozar com a vida de ninguém, por isso mesmo todas as pessoas que lerem este texto só irão saber que o sujeito é um tal de K, mas precisei refletir sobre o que me teria levado a ir a um tal encontro surreal com uma vedeta tão demodé. 
Assim que tive a minha primeira oportunidade despedi-me e paguei o meu café. O K pagou o seu, o que foi até a única coisa que reconheço que ele reparou que estava correta e segui a minha vida com a frase final mais encantadora de sempre: "Logo marcamos outro café." Lógico que eu não proferi tais palavras, foram todas elas ditas pelo K antes de seguir a sua vida, mas ainda me perguntei quantos copos de vokda preta seriam precisos eu beber para dizer que sim.
Resumindo a história, arrependida do meu tempo perdido, resolvi ir para casa e esquecer que conheci o K. No entanto não deu. O K decidiu mostrar o seu lado sedutor e mandou um pedido de amizade à minha melhor amiga, o que me deixou furiosa tanto a mim como a ela. Confrontei o K via messenger, que me disse que fez sem pensar...frase esta que ouvi tantas vezes que até me esqueci lá no nosso café inesquecível e como tal decidi que o melhor mesmo seria bloquear o K.

Lamento que o K não tenha muitos amigos, mas eu não posso ter pena de toda a gente. Dou-me sempre mal com a velha teoria da pena. Além do mais, para penas, temos as nossas queridas galinhas.
Lamento K, mas tens que ir tentando para outras bandas. Ou a minha cultura se foi naquela momento em que falamos e sofro de literacia, ou de facto eu não entendi uma palavra do que dizias. 
Pode ser que o K certo dia mande o pedido de amizade certo a uma K tão solitária como quanto ele e juntos possam Kapear para o planeta Kaput. Até lá oremos para que dê certo. 

A juventude dos nossos dias

Algo me entristece em comparação com a minha juventude e a juventude dos tempos atuais.
No meu tempo, eu conhecia a palavra respeito, sabia onde era o meu lugar, aplicava-me nas aulas, respeitava os professores e os meu colegas, era amiga de quem quisesse ser meu amigo e fugia a sete pés de qualquer discussão que surgia no recinto escolar.
Agora já não é assim.
Ninguém consegue domar as feras existentes dentro dos adolescentes, nem o vocabulário que eles falam.
Não me refiro com isto a mensagens de texto, que esse mal assiste a todos, inclusive a nós adultos.
Refiro-me ao vocabulário existente tanto nas escolas como nas redes sociais.
Adolescentes de 11 anos, querendo mandar em adolescentes de 15. O termo animal abunda na boca de qualquer um e toda a atitude ao seu redor é motivo para uma boa sova.
Depois, vamos ao facebook e as coisas não se tornam melhores. O facebook não virou só recinto de cuscos e intrometidos. Virou também local de apelo à criatividade para a alcunha mais idiota existente à face da terra. "Miúda dele", "Bandida dele" e qualquer outra coisa relacionada com o "dele e o dela" são motivo de criação de uma alcunha. Se eu tenho um relacionamento e estou na moda, então o meu facebook tem que se chamar algo como "Dama dele". Por conseguinte, o facebook do meu suposto namorado seria algo como "Damo dela".

E fico parva com isto. Sim, deveria não ficar?

Para variar um pouco os pontos críticos, os namoros também são comuns nessas idades. Um adolescente que ainda ontem nasceu, hoje já namorou meia escola e metade de outra e ainda usa termos como:

"Eu não corro mais atrás dele/dela"

O que deveria uma pessoa dignamente normal responder a isto?
"Correr atrás de quê miúda/miúdo? Perdeste algures a tua mãe/pai no mercado?

Fumar é outra das modas. Também existia no meu tempo, verdade, mas hoje parece uma viral nas escolas de primeiro e segundo ciclos.
Todo o adolescente que não fume um "nipe" ( o termo adolescente para o cigarro) não está inserido no grupo. Sim, leram bem...o GRUPO! Há grupos e para todos os gostos.

Vejo de longe e perto estas situações preocupantes e parece-me que os pais cada vez mais deixam os seus filhos andar à sua vontade. Um dos problemas que leva a esta crescente tendência parte, por vezes, da parte de alguns pais que defendem os seus filhos dizendo que "nunca mentem", quando na verdade não sabem metade do que estes fazem fora de casa.
Lamentável que assim seja.

Estamos ficando órfãos de honestidade, de educação de uns para com os outros, estamos empobrecendo não apenas financeiramente, mas também espiritualmente.
Os jovens são o nosso futuro. Um futuro que se avizinha repleto de insultos e falta de civismo e cultura. Um futuro que pensamos estar ainda distante, mas que talvez não esteja assim tão longe quanto julgamos.

sábado, 12 de março de 2016

O que está a dar é aparecer na televisão

Chamam-lhe Reality shows. Eu chamo-lhe a vergonha da televisão em direito.
Uma forma de atingir gregos e troianos com a vida alheia diretamente de qualquer canal de televisão.
Como não poderia deixar de ser, Portugal tem sido um grande adepto deste formato de programas que, infelizmente, tem vindo a conseguir um número acrescido de espectadores assíduos.
A que se deve tanta fama?
Mas antes de mais, deixo a pergunta:
Porquê este tipo de programas?
A resposta é simples. Muito simples.
As pessoas já não se interessam por cultura. Já ninguém quer saber de um bom documentário sobre a nossa história. É demasiado aborrecido ver tal coisa. Para quê saber do que foi feito pelos nossos antepassados? Muito mais interessante ver meninos e meninas jovens a entrar para uma casa, completamente entre quatro paredes, a discutir, a comerem-se, a enganarem-se e a baterem-se. No clímax deste tipo de programa, ainda há o vencedor da vergonha. Aquele que para uns é considerado o melhor jogador, mas que eu chamaria de desavergonhado com melhor perícia. Aquele que conseguiu chegar mais longe.
E ainda há quem se orgulhe de dizer que participou em programas do género e que o fez por falta de dinheiro.
Ok, é verdade, todos nós temos falta de dinheiro. No entanto, por mais falta de dinheiro que me faça, não me vejo a entrar num programa assim, e subitamente ver a minha vida investigada até ao último suspiro.
As pessoas deixam de ter as suas vidas privadas. Tudo se sabe. Absolutamente tudo.
Não estou a chamar aos concorrentes de coitadinhos, porque cada pessoa que se inscreve, só o faz porque quer. Deve de ser divertido, quem sabe. Vamos lá fazer da minha vida uma novela da noite digna da TVI, cheia de mortos e feridos, conspirações e intrigas.
Sempre que ligo a televisão é só isto que vejo: Programas que de forma alguma contribuem para a minha instrução, até a atrapalham, telenovelas em que só nos leva a seguir os lindos exemplos que vemos, homicídios e mortes a torto e a direito, ou porque a tia era rica e a sobrinha tem que deitar as mãos na fortuna, ou porque o pai era um canalha que só queria os bens da mulher para se mandar para o México com a amante...enfim. Coisas lindas, só mesmo na televisão.
A novidade está para chegar.
O dito programa em que entram jovens esbeltas e rapazes janotas e se cruzam numa dada circunstância, acabando por descobrir que são feitos um para o outro.
A sério?
Diria eu que é o programa perfeito das encalhadas que não conseguem ter uma vida feliz sem um macho que lhes faça uma festa no pelo, ou das espertinhas que não prescindem deles para lhes bancar as despesas. Estes programas são perfeitos para estas coisas todas.
Afinal de contas, vivemos num país de golpes, quer de estado, quer amorosos, ou até no controle de umas pessoas para com as outras. Lindo, não é?
Para quê me inscrever para a casa dos segredos? Se eu quiser a minha vida exposta, tenho o facebook. Nem preciso ir tão longe. Pelo menos enquanto uns se vão entretendo a ler que casei ou que tenho 80 filhos, vou fazendo a minha vida no mundo real, que é o aqui e o agora.
A parte a que chamo a "Comédia da situação", é que os concorrentes ficam famosos e até têm fãs.
Por outras palavras, uma mulher que aparenta ser uma criatura de respeito, subitamente revela-se uma menina da rotunda e tem um milhão de fãs porque sim, porque a revelação foi espantosa e não é fácil admitir o estatuto social perante o mundo e em direito.
Valha-me Deus...eu sou mesmo deste mundo?
Ainda bem que sempre há um bom livro para ler, pessoas para conversar, vida para se ter.
Ainda bem que nasci o tipo de pessoa que tenho com o que me ocupar sem ser vendo o que os outros fazem num programa. Os coitados ainda são pagos para fazerem a figura que fazem. Triste mesmo é que ninguém os manda fazer aquela figura. Fazem simplesmente porque querem ser alguém no mundo. Seja de que forma for...o que importa é mostrar que estão ali, o que não é para todos...no ponto de vista de quem concorre ao medíocre.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Liberdade de expressão é direito de qualquer cidadão

Eu tenho um blog.
Tal como eu, muitos outros tantos de milhares de utilizadores.
O blog é um espaço para a criatividade. Pode ser um diário, pode ser um jornal de notícias ou o que bem entender na ideia do seu criador.
Criei este blog para libertar a minha mente de todas as coisas que me sufocavam, quer gostassem, quer não.
Não criei um blog para agradar ao mundo, para ter um milhão de seguidores e ser popular.
Criei um blog porque gosto de divulgar o que sinto, quer por história, quer por poesia, ou rir de situações alheias e completamente tolas.
Gosto de escrever o que me vai na mente e nunca, em momento algum, usei o meu blog para divulgar o nome de ninguém. Em vez disso, uso letras do alfabeto, quer vogais, quer consoantes, para denominar pessoas sem que saiba quem são. Posso ter imaginado a história, como posso ter contado algo pelo qual passei. O importante é que me sinto bem com o que faço e não me arrependo.
Tal como a maior parte dos cidadãos de todo o mundo, sou uma pessoa consciente dos meus atos e sei até que ponto posso ir.
Como tal, decidi escrever este comentário, pois sei que há sempre um leitor ou outro que se pode sentir completamente dentro do meu mundo criativo.
Todos nós temos uma música que parece ter sido feita a pensa na nossa vida, como se o compositor soubesse de todos os nossos segredos. Estranho não?
Talvez nem tanto.
Eu sei que há pessoas, que em algum momento, também já se identificaram com o que escrevi.
Tanto que sei, que lhes fico grata por saber que acham que as minhas histórias lhes pertencem.
Um blog não só é um espaço criativo, mas também um espaço que apenas pertence ao seu criador.
Como tal, para pessoas mais sensíveis, caso não gostem da leitura, POR FAVOR...mudei de blog.
Leiam algo de que gostem. Leiam as notícias do mundo, leiam literatura...leiam Fernando Pessoa.
Leiam o que vos faz sentir bem e não o contrário.
O blog é propriedade do seu criador, como já citei. Como tal, só o criador tem o poder de decidir aquilo que publica.
Um bem haja a todos os leitores que, de alguma forma, acharam que as histórias aqui descritas, eram as suas vidas descriminadas. Um bem haja ainda maior, a quem perdeu tempo a ler. É com tempo perdido nestes interesses inúteis que os blogs continuam ativos.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

A mania das pessoas em querer saber tudo da vida de todos

Há sensivelmente três anos atrás, comecei a trabalhar na área das promoções e muitos dos espaços para onde eu tinha de ir, eram partilhados com um ou mais colegas de trabalho.
Foi assim que, passado pouco tempo, conheci uma colega de trabalho a que chamarei de P.
A P era uma senhora na casa dos 47, atualmente com 50, e muito simpática com toda a gente. Era muito fácil ser-se amigo da P. Por vezes até sabia bem trabalhar com a P. No entanto, de uma momento para o outro, eu e a P ficamos muito amigas e a P começou a ligar-me com mais frequência para saber como eu estava.
Inicialmente tudo corria bem. No entanto, com o passar do tempo, começo a reparar que as chamadas da P eram de uma frequência cada vez maior e obsessiva.
De um momento para o outro, fizesse eu o que fizesse, era bombardeada com todo o tipo de chamadas.
Sem querer dar grande importância ao pormenor em questão, falei com a P para apenas não me ligar na minha hora de trabalho, coisa que a P respondeu com um sim, mas atuou com um Não.
Todo o santo dia, no meu horário de serviço, eu era bombardeada pela P. O teor da conversa?
Nada mais, nada menos do que: "Onde estás, o que fazes, com quem, quando voltas, quanto ganhas, quanto custou"...
Começo a não achar muita piada ao tipo de atitude da P, mas vou aguentando o barco.
Numa dada altura da minha vida, comecei a trabalhar com a P nos mesmos espaços e comecei a reparar em pequenos pormenores. Tudo o que eu tinha, a P tinha que arranjar parecido. Primeiro, ria-se das coisas que eu tinha, dizendo que eu arranjava todo o tipo de bugiganga. No dia seguinte, tinha precisamente a mesma coisa que eu.
Mais tarde passou a controlar o valor das coisas que eu tinha. Quanto custou? Porque gastaste esse x se podias gastar este x? Coisas assim do género.
Lembro-me de me sentar e pensar precisamente sobre a minha idade e a idade da P, questionando-me qual o grau de parentesco que nos unia.
Alguns meses mais tarde, a dita P decidiu preencher a sua solidão com uma quantidade de chamadas despropositada. De minuto a minuto, fazia a sua chamada. Não sendo atendida, repetia a proeza, numa tentativa de conseguir forçar-me a falar com ela, quando eu não podia. Na verdade, nem podia, nem queria. Até mesmo quando eu já podia, não fazia questão de atender, sabendo sempre a conversa que aí vinha e que, no final da novela mexicana que este enredo se tornara, eu iria desligar sempre a encenar o meu melhor papel, quando na verdade estava rebentando pelas costuras.
A minha vida, de um momento para o outro, passou a ser alvo de controle, de diversão e de preenchimento do tempo livre da P, que aliás, era muito. Tempo para coisa que não lhe faltava.
A forma como a P preenchia o seu tempo, era passando o dia a telefonar-me. Se eu não entendia ao fim de mil e quinhentas tentativas de chamada, ligava para uma amiga minha de quem ela também tinha o número. Por fim, se a minha amiga não lhe dava bola, ligava para minha casa, massacrando o tempo a quem quer que lhe atendesse o telefone.
Chegou mesmo ao ponto de estar a trabalhar numa escola de primeiro e segundo ciclo onde a minha irmã mais nova estudava, e massacrar a minha irmã, pedindo-lhe informações a meu respeito de todo o modo possível e imaginário.
O derradeiro adeus a esta situação começou quando eu decidi instalar um programa no meu telemóvel para bloquear as chamadas da P. Mais adiante, cada encontro era preenchido com piadas e bocas de quem demonstrava ser um mapa da minha vida, mais do que eu mesma. Aguentei e aguentei e inspirava e expirava numa tentativa de pensar que, em algum dia, tudo aquilo iria acabar.
E acabou mesmo. Acabou quando a P decidiu ter a mania que sabia com quem eu falava ao telefone e que eu trabalhava em lado Y em vez de lado X. Acabou nesse preciso instante, quando eu me levantei e a encarei nos olhos e abri por fim a minha boca, sem me preocupar com quem ouvia. Acabou quando eu projetei a minha voz de forma a que a P ficasse colada ao encosto do banco em que estava sentada, surpreendida pela minha coragem e sem argumentos para me dar. Acabou quando eu lhe pedi que se preocupasse com o filho que tem, em vez de se preocupar comigo, porque eu também tenho mãe. Acabou quando eu lhe disse que era uma vergonha, uma mulher da idade da P, meter-se na vida de alguém quando nunca fez nada por mim.
Lamento que as coisas tenham chegado a este extremo.
Por norma admito, sou uma pessoa muito paciente e tolerante e penso sempre em respeitar os outros. No entanto, comecei a dar-me conta que, se calhar, esta não é defesa alguma para pessoas como a P.
Aprendi todos os dias com o que via e serviu-me de lição, embora possa parecer que tomei a atitude já um pouco tarde.
Nunca se é tarde quando se sente que é chegada a altura de se dizer o que se sente.
O importante é mandar embora o que nos afeta, o que nos faz mal e que consideramos tóxico. Para mim, a P, não passava de uma pedra no meu sapato, que eu tive de aprender a mandar embora.
Assim foi. Foi embora para bem longe e o que é certo é que ontem choveu e hoje, o sol teima em querer espreitar.