Bem vindos ao meu blog. Aqui escrevo o que penso, o que me apetece e o que bem entendo. Fiz-me entender? Nem por isso? É complicado exemplificar. Puxai uma cadeira. Comei pipocas e ride! Sim...riam muito porque tristezas não pagam dívidas.



quarta-feira, 24 de março de 2010

Palavra em branco

Entro. Não tenho minimamente vontade de falar nada. Sento-me. Estou cansada de tanto trabalho. Sinto o chamado vazio das palavras dentro do peito. Deixo-me ficar sentada e penso em nada. Não há muito em que se possa pensar agora. Não há espaço para tanto pensamento.
Reparo que não arrumei o quarto antes de sair e nem tão pouco me importei. Sentada diante do computador, fico ausente por instantes. Começo a escrever, primeiro um rabisco, depois outro, até ir de encontro ás palavras certas. Pensei escrever uma carta ao Presidente falando da situação lamentável do país em que vivemos, depois pensei escrever a um velho amigo de infância. Faz tanto tempo que não o vejo. A última vez que nos vimos ele já estava do outro lado da rua, acenou-me com um largo sorriso no rosto. Também lhe sorri e gritei: -Temos de nós ver nas férias.
Ele afirmou com a cabeça. Desde então nunca mais nos falamos. Por aqui se vê a veracidade das palavras. As mais sinceras foram sempre as que nunca se disseram, são aquelas que se sentem, as que poucas vezes ousamos deitar cá para fora com medo de magoar ou se sairmos magoados.
Por fim decidi escrever-te uma carta. Iria soar ridículo. Facilmente te consigo imaginar a recebê-la. Consigo imaginar os teus dedos a percorrer a folha, o som da folha a desdobrar-se por entra as tuas mãos e o teu olhar atento, fixo numa folha de papel com poucas palavras. Sem a minima importância para ti certamente. Mas, talvez não devesse deixar de arriscar assim tanto. Afinal não és daqueles homens comuns que se limita a ler e irritar-se com meras tolices. Gostas de dar nas vistas, ser apreciado por todas as mulheres, ser notado de uma ponta a outra da sala por onde caminhas, mostrar tudo de forma a se fazer pensar que em ti está um homem a sério. Calculo que a esta hora já muitas mulheres te devem ter passado pelas mãos. Não és daqueles que se contenta com pouco. Para ti uma mulher só é importante antes de a possuires. Levas os primeiros tempos com ela, dizes que a amas vezes sem conta até a fazeres acreditar e no fim terminas com desculpas esfarrapadas, desculpas de alguém que nem sabe ao certo que mentira inventar para sair de uma relação. Homens como tu há muitos, com efeito acabam todos da mesma forma. Sabe bem passar por eles e ver como ficaram depois de tudo o que nos fazem passar, pensei eu.
Jamais te diria que não tens carácter. Não uso palavras ofecivas para te qualificar.
Sinto-me demasiado ocupada para me dar a esse trabalho, além disso, não seria preciso descer no teu nível.
Comecei a carta com um simples olá. Mais tarde achei que soaria ridiculo, rasguei e recomecei com um CARO...não, esta ainda não era a palavra adequada. Pensei.
Achei ridículo não achar palavra introdutória suficientemente boa para começar uma simples carta, afinal seria apenas um desabafo, porque haveria de me dar tanto ao trabalho?
Talvez não devesse escrever-te. Talvez fosse perda de tempo. Sim, é perda de tempo, concluí por fim.
Levantei-me por fim. Saí do quarto levando comigo todas as folhas meio escritas com meias palavras.
Já passou tanto tempo desde que nos vimos pela última vez. Quem sabe já nem te lembres de quem sou, talvez te lembres demais, mais que eu mesma me poderia alguma vez lembrar de ti.
Dir-te-ía isso mesmo numa carta se podesse ou tivesse tempo para te falar em fingimento.
Esperei anos a fio uma carta tua. Parecias honesto quando me disseste que me irias escrever. Os anos passaram-se todos da mesma forma nesse tempo e todas as respostas que tive tuas foram ausência de palavras. No fundo és isso mesmo, apenas uma palavra em branco.

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