Bem vindos ao meu blog. Aqui escrevo o que penso, o que me apetece e o que bem entendo. Fiz-me entender? Nem por isso? É complicado exemplificar. Puxai uma cadeira. Comei pipocas e ride! Sim...riam muito porque tristezas não pagam dívidas.



sábado, 13 de março de 2010

Esperança perdida

Escrever-te-ia uma carta de amor. Talvez te telefonasse depois de sair do trabalho só para te dizer olá, para escutar do outro lado o som da tua voz, sentir-te mais perto outra vez e saber que estavas bem. Talvez te fosse buscar ao trabalho ou ainda te desse boleia para lá voltar sem pedir nada em trocar. Pensei muitas vezes em todas essas possibilidades, na forma como iria encarar-te depois de tudo, na maneira doce e directa com que os teus olhos me observavam numa tentativa de saber o que se escondia no meu olhar. Pensei em todas essas possibilidades e em tantas outras. Pensei na última vez que seguraste as minhas mãos frias e as levaste até ao teu peito firme,de forma a que pudesse ouvir o bater do teu coração. Deixei que as palavras se calassem, não seria preciso usar palavras para sentir os seus efeitos devastadores. Nesse mesmo dia disseste que não, que chegava o fim, que estavas cansado da rotina, que o amor é vadio e foi em busca de outra fonte de viver, que o teu mundo já não era mais este mundo em que ambos vivíamos em sintonia. Disseste e eu ouvi tudo até ao fim. Doí-a a forma como as palavras entrava nos ouvidos, fazia ruído, fazia doer dentro do peito. Soava como uma melodia fora de tom, uma melodia demasiado frenética e estridente,demasiado para suportar ouvir-se.
Pensei no tempo que passei em ir em busca das tuas palavras,não as últimas que me disseste, mas outras palavras mais distantes, mais doces, com uma melodia de fundo encantadora. Procurei ferir-me e iludir-me em busca do que não mais havia, procurei e perdi-me no meio de uma busca vã, no meio de um circulo em que se anda e se volta precisamente ao mesmo lugar. Busquei sabendo no fundo da realidade, sabendo que jamais voltaria a existir passado, que não mais se recupera o que se dá e o que se recebe e que deixamos escapar sem querer. Foi isso que aconteceu. Tu foste sem querer, vieste e foste como uma rajada de vento, escapaste por entre os meus dedos, por entre os meus sonhos.
Pensei e tornei a pensar sem saber até onde iria continuar este misto de ilusão e tristeza. Parei diante do telefone com as mãos a tremer,pousei o auscultador no ouvido e marquei o teu número. Estava decidido: iria dizer-te tudo, iria dizer-te todas aquelas palavras que durante anos idealizei dizer-te nos olhos mas que não as disse por vergonha de sair ridículo, com medo de fracassar diante do teu olhar.
-Sim? - Ouvi-te por fim falar. Ficaste em silêncio aguardando resposta. Tentei dizer-te que era eu, que te amo, que queria tentar tudo de novo, que precisava de ti. As palavras a querer sair e a não sair, o corpo a querer mexer-se mas paralisado.
-Quem fala? Está aí alguém? -Voltavas tu a dizer. Ouvia o som da tua respiração, aquele som que tantas vezes escutava no silêncio entre quatro paredes antes de adormecer. Senti quase que o teu perfume, quase que tudo de volta sem que nada fosse avistado. Senti tudo por um instante, senti e depois perdi. Desligaste. Fiquei em silêncio. Sabia que seria assim daqui em diante.
Pensei mais uma vez, depois outra. Cruzei os pensamentos e formulei hipóteses, mais uma entre as milhares já pensadas, tantas que até já me esqueci de metade delas. Pensei e concluí por fim. De que serve esperar-te? Tu não irias voltar. Não precisava manter a porta aberta, não seria preciso ligar-te, não seria preciso esperar-te. Tu estavas do outro lado agora, de um lado diferente do meu, de um lado oposto ao meu, do lado de fora, do lado do passado