Ainda o vejo.
Ainda é visível o sabor do beijo, o olhar de soslaio.
Ainda vejo a mão na porta e a cama desfeita.
Consigo sentir ainda o cheiro do passado nos mesmos lençóis.
Tu ainda estás comigo.
Por vezes sinto-te ir embora e corro á tua procura.
É engraçado saber que não te encontro, mas insisto em buscar-te nas coisas perdidas.
Ás vezes encontro-te num espelho cheio de pó, outras vezes estás na tinta de uma caneta.
Por vezes revejo-te num folha de papel riscada. Vejo-te e revejo-te em cada risco. Busco-te sempre dessa maneira para me certificar de que estarás mesmo ali para mim.
Mesmo que tenhas partido não admito que sim. Deixo as palavras morrerem juntamente com a tua lembrança que se apaga a pouco e pouco da minha memória, que foge lentamente do meu coração, para que eu não sinta falta.
Tu poderias ter sido feliz se ficasses, poderias ter a chave do meu coração se Deus não te quisesse junto dele.
Porém ainda te vejo.
Mesmo que muito longe, ainda sinto o teu perfume na sala, a gaveta da cómoda desfeita. Tu gostavas de procurar aqueles retratos de quando brincávamos ás fotografias engraçadas.
Ainda sinto a tua mão nas minhas costas. Vejo-as de olhos fechados a deslizar na minha cintura, a procurarem o meu rosto desnudo, a buscar tocarem na minha alma vazia.
Ainda és tu sem o seres realmente.
Ainda é assim.
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