Bem vindos ao meu blog. Aqui escrevo o que penso, o que me apetece e o que bem entendo. Fiz-me entender? Nem por isso? É complicado exemplificar. Puxai uma cadeira. Comei pipocas e ride! Sim...riam muito porque tristezas não pagam dívidas.



sábado, 12 de março de 2011

A Forma como o Tempo toma conta de tudo e de todos

É curioso este tema e já há uns dias que tenho pensado nele e cada vez com mais frequência. Toda a gente já passou por momentos horríveis que, com o passar do tempo, não passam de histórias de encantar e que até se conseguem guardar boas memórias. A isso eu chamo O feito do tempo. Pois é, o tempo tem uma enorme capacidade de nos livrar das coisas que nos apoquentam sem precisarmos de nos esforçar muito. Claro que até lá vamos convivendo com elas diariamente, mas a cada dia que passa esse assunto ou coisa vai ficando cada vez mais distante das nossas cabeças.
Como se costuma dizer, ou melhor dizendo, como EU costumo dizer, é impossível um determinado assunto ser alimentado sem acontecimentos que o envolvam, como tal, o tempo interfere e muito na forma como as coisas se arrumam na gaveta do nosso cérebro.
O melhor de tudo, pelo menos para mim, é quando nos damos conta de que, um dia, aquele assunto que antes me chateava tanto, hoje pura e simplesmente não consigo recordar com precisão. E aquela pessoa que antes nem podia ver pela frente...hoje pura e simplesmente não passa de uma mancha negra diante dos meus olhos, nem consigo lembrar bem do rosto. Claro que se a visse na rua, ou se visse uma fotografia, saberia logo quem era, o tempo não nos tráz Alzaimher, apenas nos retira da memória os pormenores sem importância e na nossa cabeça ficam apenas as boas lembranças. O nosso cérebro tem uma enorme capacidade de guardar todo o tipo de recordações, quer boas, quer más. Mas também tem a capacidade de excluir da memória determinadas lembranças sem significado algum deixando apenas o que interessa ao homem para continuar a recordar.
Há mais ou menos um mês, estava eu a arrumar o meu quarto quando dei com um caderno preto de papel quadriculado e pautado onde eu anotava as melhores e piores coisas da minha vida. Uma espécie de Diário de Bordo da minha vida, que o ano passado não esteve particularmente famosa. Sentei-me a ler e lógico que sabia precisamente que coisas eram, que assuntos aquelas páginas contavam...mas houve algo em mim que parou para pensar no final da leitura completa daquele caderno. Será que a pessoa de quem eu falava era assim tão importante? Se o era, então porque não consigo já lembrar-lhe o rosto? Naquele caderno eu falava de todas as minhas experiências vividas em conjunto com a minha melhor amiga e irmã e no meio dessas experiências abordava a temática de um amor falhado por um rapaz e nesse preciso momento dei-me conta de que não conseguia recordar o rosto desse rapaz. De cada vez que me esforçava para tentar ver com precisão a cor dos olhos ou a forma como tinha o cabelo, tudo o que eu via diante de mim era uma silhueta de longe cujo rosto estava coberto por uma mancha de tinta preta, como se o tivesse imprimido numa folha de papel e o tinteiro tivesse manchado a imagem. Tentei ainda assim fazer um belo exercício de recuperação recordando momentos bons que tivéssemos passado ou até maus momentos. Mas tudo o que me recordo foram as vezes que passei junto da minha irmã e amiga nessa mesma altura. Não consigo precisamente referir um momento único que mais me tivesse marcado do lado dessa pessoa ou o pior momento que tivesse passado com ela. E mesmo estando a ler aquele caderno e sabendo do que havia ali falado, não me recordava com precisão dos sentimentos descritos naquelas folhas, se doía ou se era divertido, se gostei ou se odiei, e reparei que quando vejo aquela silhueta manchada diante dos meus olhos não consigo sentir nada que me diga se essa pessoa é uma boa lembrança ou uma má lembrança. Foi aí, nesse instante em que me dei finalmente conta que matei dentro de mim essa pessoa. A pessoa que naquela altura da minha vida mais ocupava a minha cabeça hoje é uma mancha difusa sem formato concreto. E não me transborda nada ao recordá-la. E foi tudo há um ano, mas nesse tempo foram tantas as vezes que falei, tantas as vezes que lutei e desisti, que a apaguei sem me dar conta. E hoje dou-me conta que fui eu que a espantei de vez da minha vida por vontade própria. E não consigo dizer se é bom ou mau porque ao pensar em todas estas coisas não acontece nada dentro de mim que me dê uma resposta. Não há simplesmente resposta.
É engraçado como o tempo nos ajuda a matar dentro de nós tudo aquilo que não tem importância e que acaba por cair na nossa memória reciclável, e deixa apenas as boas memórias que acabam por ficar na nossa memória portátil para sempre como boas memórias. O tempo de facto é soberano de tudo e de todos. Só ele nos mete neste mundo e é ele que tem a capacidade de nos levar dele.

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