Bem vindos ao meu blog. Aqui escrevo o que penso, o que me apetece e o que bem entendo. Fiz-me entender? Nem por isso? É complicado exemplificar. Puxai uma cadeira. Comei pipocas e ride! Sim...riam muito porque tristezas não pagam dívidas.



sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Coração do Deserto

O sol nasceu cedo nas dunas do deserto. Visto de longe as sombras cobriam a parte em que o sol não chegava. Eu estava sozinha. Esperava-o ali mesmo, naquela aldeia abandonada. De longe ouviam-se as vozes de um povo berber que me embalava o coração com a sua doce melodia.
Era chegado o dia. Foram muitas lutas travadas para conseguirmos finalmente ficar juntos. O seu olhar parecia alcançar-me o coração por entre o vento que me beijava a face rosada. Cobri o meu cabelo com o véu e caminhei esperando por ele.
De longe senti os seus passos. Vi a sua silhueta espreitar pelas sombras e depois...o seu sorriso. Era mais um encontro escondido por entre as casas de barro. Ninguém podia saber. A minha família era muito rígida. Prometiam trancar-me para sempre num quarto se eu voltasse a fugir de casa. Mas hoje eu tentei de novo. Poderia ser a última vez que nos víamos. Tinha que arriscar.
Quando nos vimos já nos tocávamos sem sequer nos tocarmos de verdade. Os nossos olhos fundiram-se por entre a areia que voava com o vento. Quando nos abraçamos o mundo fugiu-me entre os dedos. O cheiro dele era doce e apeteceu-me ficar assim para o resto da minha vida.
Eu tinha medo e ele também. Já havíamos arriscado tudo. Todo o mundo sabia deste nosso segredo, mas nem assim nos separavam. Ele tinha voltado dos Estados Unidos para ficar comigo em Marrocos.
Não me importava mais com o que nos pudesse acontecer. Subitamente eles chegaram. Aqueles monstros que o meu pai contratou para me seguirem apanharam-nos juntos numa tentativa de fugir.
Avistamos um cavalo e fugimos o mais depressa possível. Atrás de nós tiros soavam pelo ar. Tentamos escapar por entre as paredes estreitas, por entre a terra, por entre os véus que agora se alongava no cimo do mercado, por entre as abayas das mulheres, por entre os gritos dos vendedores.
O cavalo não podia mais circular naquela via, por isso corremos pelos nossos pés. Corremos e mergulhamos entre ruas estreitas uma após a outra até nos sentirmos perdidos. Nisto despistámos-los. Estávamos agora a salvo. Ele ia levar-me dali, tirar-me daquela prisão infernal e eu estava disposta a ir com ele.
Estávamos juntos agora, nada nos podia mais afastar. Ele beijou-me. Poderia aquele ser o nosso último beijo. Nunca me questionei se o seria. Fechamos os olhos e esperamos que os nossos corações acalmassem abraçados. Nisto eles surgiram de novo. Estávamos encurralados num beco sem saída. Tentaram tirar-me dele, puxavam-me dali para fora e eu gritava. Em poucos segundos aquele lugar se encheu de gente curiosa. Algumas mulheres tinham pena de nós, outras apontavam para o meu pai que veio buscar-me cheio de vergonha. Era uma humilhação para ele ver-me nas mão de um estrangeiro. Separaram-nos. Arrancaram-me dele de uma vez e levaram-no para longe. Eu gritei. Tentei fugir e na primeira oportunidade consegui. Corri para o deserto em busca dele porque sabia que o iriam deixar lá para morrer de fome e sede. Corri deixando o véu escorregar pelos meus cabelos. Corri para longe o mais depressa que pude.
Nisto avistei-o. Estava rodeado de homens que o tentavam matar. Corri já sem ouvir nada ao meu redor. Corri o mais depressa que pude para evitar ver voar a bala que lhe iria atravessar o nobre coração. Quando cheguei senti-a. A bala atravessou-me de um lado a outro e depois outra a ele que o derrubou sobre mim. Ficamos no chão, olhando um para o outro naquele nosso último encontro. Era o último. Pude sentir que os nossos destinos se cumpriram ali mesmo. Estendi a minha mão para ele que a segurou com as suas últimas forças. Ele disse que me amava...como eu o entendia. Como eu queria poder ter-lhe dito o mesmo naquele instante em que a branca luz me cegou por completo.

1 comentário:

Gisela disse...

Jesus do Céu...
Cada vez gosto mais dos teus textos.
Este está mesmo à árabe. Andamos muito árabes ultimamente.
Maninha "Yala"!!! XD