O dia amanheceu chuvoso e eu tinha de sair. Há muito que não apanhava o autocarro para o meu local preferido. Já sentia saudades.
Peguei no guarda-chuva e vesti o meu casaco. Verifiquei se tinha dinheiro suficiente na mala e saí de casa.
A chuva dizia-me que não iria parar mas mesmo assim continuei. Havia pouca gente na rua, toda a gente saía de carro neste tempo.
Quando cheguei á Terminal Rodoviária fumei o meu cigarro e esperei que chegasse o autocarro, que por sinal se atrasou ligeiramente.
Fui ouvindo música para deixar o tempo voar e olhei pela janela observando a rua e as gotas que caíam.
Pequenas gotas de chuva caíam levemente no solo frio desenhando círculos. As árvores agitavam-se e dançavam ao som do vento que trazia mais água vinda do céu. As pessoas conduziam cautelosamente para não provocar acidentes e o meu pensamento dispersou para o meu destino próximo.
Quando cheguei senti-me subitamente perdida. Não sabia para onde ir, embora soubesse muito bem onde estava. Por vezes o meu coração tem a mania de se perder em sítios que conhece levando-me a deambular pelas ruas em pleno Inverno, mas eu nunca me importei com isso.
Fui simplesmente andando pelas ruas, sentindo o cheiro a terra molhada e os pés que começavam a arrefecer dentro das botas pretas. Tinha a saia ensopada pelo vento que me levava a água para cima e o cabelo despenteado pelo vento.
Deixei a cidade, procurei abrigo no campo, nos cerros densos, longe dos olhares alheios.
Subi a íngreme subida até ao santuário que era motivo da minha vinda àquele local.
Estava a decorrer uma missa quando entrei. Normalmente não sou pessoa de ficar para assistir a missas, mas naquele momento decidi ficar. Não tinha muito sitio onde desejasse ir.
Subitamente, enquanto o meu olhar dispersava pelos vidros molhados do santuário avistei-o.
Era um rapaz alto, de cabelo ondulado que me olhava pelo vidro. Tinha ambas as mãos coladas ao vidro e verifiquei ao meu redor para me certificar de que de facto ele me olhava.
Senti-me perdida, completamente apaixonada por um desconhecido de olhar penetrante que me observava de olhar triste. Senti os meus olhos encherem-se de lágrimas. Subitamente reconheci quem era. O nosso passado desfeito e o nosso presente encontraram-se de novo. Diante de mim estava o homem que havia sido proibido de ficar comigo por parte de ambas as famílias. Tentei não despertar a atenção de ninguém, sair dali sem que fosse vista, mas já muita gente nos observava com olhar curioso. Deixei-me ficar sentada virada para ele, sem lhe dar qualquer sinal que fosse, esperando ganhar coragem para avançar. No momento em que finalmente senti que iria sair dali e ir ao seu encontro avisto a família dele que o levou pelo braço ao se darem conta da figura feminina que ele tanto mirava.
Senti uma enorme pontada de desgosto e derrota no coração. Saio disparada do santuário sem querer saber de mais nada. Corro pela calçada de pedra em plena chuva deixando o meu guarda-chuva para trás esquecido por mero acidente. Procurei por ele e tentei de uma vez resolver toda a situação que o passado não nos havia deixado resolver.
Quando cheguei lá abaixo avisto o carro dos pais dele a ir embora. Corro para os chamar, tentar quem sabe explicar-me, fazê-los perceber que ninguém manda no coração. Tarde demais. Ele desapareceu por entre a neblina, absorvido pelas gostas de chuva, pelas flores de gelo que se formavam agora no céu.
Ele foi embora...e com ele, toda a minha alegria e esperança de um dia poder ser feliz do seu lado.
3 comentários:
Adoro ler teu blog. Escreves sempre coisas que adoro ler, textos bonitos, alguns com piada, outros mais sarcásticos, mas estes mais sentimentais são os que mais me tocam. Gosto de me sentir dentro de tuas histórias e viajar por teu mundo interior.
Continuas a ser minha princesa Linda. Amo-te.
Seria giro no final eles ficarem juntos, já que levaram tantos anos de batalha sem a aprovação da familia...
Que post bonito Tânia, e essa música de inicio fica tão bem a acompanhar.
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