Bem vindos ao meu blog. Aqui escrevo o que penso, o que me apetece e o que bem entendo. Fiz-me entender? Nem por isso? É complicado exemplificar. Puxai uma cadeira. Comei pipocas e ride! Sim...riam muito porque tristezas não pagam dívidas.



terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Vagabunda

Não posso mais!

E dito isto fugi. Era difícil ficar ali sentada, ver-te sorrir-me com aquela graça. E entre nós o vidro invisível que nos separava.
Eu amo-te dizias tu através desse vidro, sussurravas essas palavras docemente para me embalar a alma e adormecer a mente. Eu sorria. Não pretendia cair nas tuas graças outra vez. Mas estava a ficar difícil, o teu corpo chamava o meu, atraía-o como um íman, e ali estávamos nós, dois estranhos entre olhares e sorrisos naquele banco de jardim.

Um ano mais tarde já não era a mesma coisa. Decidi fazer uma viagem para longe. Agrada-me a ideia de poder ir para longe, saber que perto estamos mais ao alcance dos problemas, longe significa deixá-los e correr. Deixei um bilhete escrito na mesinha de cabeceira e fui embora. Talvez alguém se lembrasse de mim naquele momento em que partia.

Cheguei a Londres muito cedo. Quase chegava atrasada. Desci sem saber para onde ia. Nisto um jovem simpático oferece-se para me acompanhar a um café e aceitei. Não é muito meu costume aceitar companhia de estranhos, mas lembrei-me dos velhos tempos em que tão levemente aceitamos o risco.
Enquanto ele falava eu notava algumas semelhanças nele contigo. Dei por mim a olhar-lhe para os lábios, a decifrar o sabor do beijo, a pensar em como já não tinha mais idade para pensar nessas coisas. Mas mesmo assim fazia-o com a mesma futilidade de sempre. Sempre a pensar no prazer que me poderia dar sentir-te nele, sentir os teus lábios nos dele. E fi-lo.

Nessa noite fomos para a cama sem eu saber ao certo o que fazia. Ele agarrava-me com um bicho e eu nem cedia a um único toque. Era bom encontrar-te depois de tantos e tantos anos. Eras tu nele. Naquele ser estranho que mal conheci na primeira visita a Londres. Reconheci o teu cheiro no dele. Fechei os olhos e deixei-me ficar quieta, esperar que ele me mandasse embora depois de toda aquela safadeza. Mas o que estou eu a fazer...? De que me vale pensar numa coisa que já estava feita?
Ele não foi. Adormeceu ali do meu lado no meio de uma cama de casal, mas de repente tornou-se tão apertada para dois corpos sujos e sem rumo. Vesti-me, não conseguia sequer ver-me no espelho. Nem uma única palavra. Arrumei a minha mala e saí disparada do hotel. Nem paguei, deixei tudo por conta dele. Ninguém me disse nada nessa noite. Nem eu queria pensar mais no assunto.
Ter-te encontrado poderia ter sido melhor. Mas não, continuavas sujo.
Decidi voltar para o meu país depressa. Nem soube o que me deu para ter decidido fugir-te.
Quando cheguei tu esperavas-me. Sempre tinhas lido o meu bilhete. Olhei-te nos olhos e foi engraçado...parecia que o tempo nunca nos tinha separado, e que aquele espaço vazio nunca poderia ter existido.

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