Foram muitas as vezes que te escrevi sem nunca te mandar carta alguma que fosse.
Foram muitas as vezes que li e reli todas as cartas que me escreveste. No meu quarto são inúmeras as folhas de papel que jazem no chão sem vida, cheias de erros que cometi.
O que escrevo não foi de forma alguma um pedido de desculpa, mas um pedido para que, talvez um dia entendas, te afastes para sempre do meu caminho. Para que eu possa respirar.
De todas as vezes que te escrevi nunca deixei que voasses da minha escrita. Permaneceste sempre lá, de uma forma ou de outra, com o mesmo brilho de sempre.
Deixei em cima da mesa de cabeceira aquela folha perfumada que me mandaste pelo aniversário, com um belo ramo de flores.
O mundo é mesmo um lugar estranho.
Foram muitas as cartas deixadas pela mesa de cabeceira, foram muitas as juras, as promessas e o incumprimento destas.
Na tua vida não havia espaço para uma mulher, eu sabia disso. É por isso que quero que vás embora hoje. Amanhã eu prometo-te, tudo ficará bem e tudo se irá resolver. Já não há a marca dos teus lábios no meu pescoço, nem a gota de suor que me banhava outrora a pele macia. Já não ficaram os teus sapatos do lado da cama, nem a tua roupa espalhada pela sala. Já não há as lágrimas, nem os sussurros das mesmas, nem a angústia daquele dia que tardava sempre em querer chegar, espreitar pela minha janela.
No meu mundo já não há espaço para caber o teu, nem há mais o papel vazio para mais palavras nele caberem, na esperança de um dia te poder encontrar e te entregar mais um dos meus erros.
Na mesa de cabeceira não há mais o copo de água, nem o despertador que toca.
Sigo assim, feliz, um caminho totalmente diferente daquele que um dia disseste que me oferecerias.
Sigo assim o que escolhi para mim, quando tantas vezes me juraste oferecer o teu mundo.
Texto dedicado á minha fiel e querida Sónia
1 comentário:
Adorei este texto de prima para prima. Cada vez surpreendes-me mais com o que escreves. Beijinhos
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