Sinto a tua falta.
Poderia dizê-lo de mil e uma formas diferentes, mas apenas me ocorreu por palavras.
Estou velha, cansada. Carrego o peso de anos em cima e nada trago comigo se não as mãos cheias de saudade.
Cada passo que dou é agora mais pesado. Os anos passam e tudo se repete de maneiras diferentes. O sol nasce e esconde-se com medo de mostrar o seu calor e tudo o que resta do meu lado são as noites vazias cheias de abraços inexistentes.
Estás longe, muito longe para que te possa trazer para junto de mim.
Tento correr, salvar-te de tudo isto. Salvar-nos de tudo isto, mas sinto-me impotente.
As horas passam e tudo o que resta de ti é uma luta contra o tempo.
Ainda trago na lembrança aquele abraço.
Quando fecho os olhos não saem lágrimas, elas estão no coração.
Os meus olhos secaram, o meu peito não.
Fazes-me falta sabias?
Talvez não saibas. Tu nunca soubeste nada. Trazes contigo uma juventude plena de liberdade, uma magia no olhar agora apagado pela dor que transportas. Não desistas. Por favor, diz-me que não será assim que tudo irá terminar.
Quando toco nas tuas mãos vejo-te sem precisar de abrir os olhos.
Quando te abraço sei sempre que és tu sem que precises de me dizer com palavras.
Ainda há aquela camisa branca na sala de estar, o teu perfume misturado com as minhas jóias na cómoda do quarto, mas nada teu, nada que possa garantir-me que amanhã irás abrir aquela porta repleta de sorrisos.
Sonhei tanto e vivi tão pouco. Sonhamos tanto e quase não vivemos nada.
Ambicionamos mais do que conseguimos cumprir. Choramos hoje pelo que nos arrependeremos amanhã e nada fica do que já foi.
Apenas tu estás em mim agora. E é o agora que importa.
Amanhã pode não haver, não haver espaço para dois corpos juntos, para duas almas distintas.
Não há espaço no armário para tanta coisa. A vida é sempre cheia de tudo. Tudo é sempre demais.
Antes dizias que preferias viver um dia de cada vez, mas acabaste vivendo todos os dias num apenas.
Tens tudo e tudo te escapa. É sempre assim.
Por isso fica. Não percas mais tempo. Senta-te na cadeira vermelha, fala comigo dos teus medos, conta-me histórias de adormecer, faz-me aquela festa no cabelo que tanto me acalmava quando sentia medo do escuro.
És um ladrão de sonhos sabias?
Tu és um sonho.
Mas por favor, não vás embora. Não te apagues da minha memória.
Não antes de me deixares dizer que te amo.
1 comentário:
Muito emotivo e cheio de dúvidas sobre o futuro.
Como sempre, emocionante.
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