Quero abraçar-te agora, gritar ao mundo que és tudo para mim sem usar uma palavra, dizer que fazes parte de mim, que encaixamos perfeitamente um no outro, que somos parte um do outro, tudo isto sem usar uma palavra.
Gritei a mim mesma esses mesmos pensamentos enquanto atravessava o longo corredor que iria dar lugar á sala onde estavas.
Não ousei chorar naquele momento. O medo tomou conta de mim.
Olhei pelo vidro e tudo o que via era o breu que te envolvia. Uma enfermeira saiu da sala e disse que poderia entrar, que tu me esperavas e querias ver-me de certeza, mesmo que não mo pudesses dizer.
Entrei receosa de não te reconhecer, de ver outro homem diferente de ti, de sentir que todos estes anos foste algo que agora te tiraram.
Fui-me aproximando da cama sem conseguir olhar-te directamente.
Quando ganhei coragem de ver que era o outro que agora se dizia seres tu, deparei-me contigo.
Pensei em gritar pelo choque.
Dormias calmamente, sem dizerem uma palavra. Dormias o teu sono profundo sem que conseguisses acreditar.
Como profundo, disseram eles. Coma.
Repetia vezes sem conta essa mesma palavra de quatro letras sem nunca entender o seu significado.
Coma.
E tu ali deitado nesse coma, sem conseguires ao menos ver-me os olhos vermelhos ou as mãos trémulas.
Agarrei na tua mão fria. Apertei-a contra o meu peito, diz dela almofada para o meu rosto sofrido.
Coma.
Eles disseram-me que tu ouvias, por isso falei de ti, de tudo o que és para mim, sem nunca usar aquelas palavras fortes, com medo de se acabar tudo.
As horas passavam e tudo o que eu via eram os teus lindos olhos fechados.
Perguntava-te quando seria possível vê-los abertos, ver-te sorrir e poder dizer-te que somos do mesmo sangue, que somos parte um do outro, que irei lutar por ti até ao fim dos meus dias.
Coma.
E eu sem ter tido a oportunidade de te dizer mais cedo que tudo o que mais queria é que fosses feliz.
Coma.
E as lágrimas que me caíam do rosto com medo de te ires embora sem me dizer adeus.
E eu a gritar baixinho para não te ferir
"FICA"
E sem saber se já te tinhas decidido em ficar ou partir.
O diagnóstico reservado, a vida que deixaste para trás...e esse sorriso que hoje os teus lábios escondem com medo de fugir, de ser perder no horizonte onde não mais se encontre.
Coma.
Mas porquê?
Porquê a ti? Porque não comigo?
Repeti esta frase tantas vezes, fiz essa mesma pergunta tantas vezes até te encontrar agora deitado.
Amar-te talvez não chegue para te trazer de volta. Talvez não chegue para que entendas que tudo o que mais desejava era que ficasses. Talvez não chegue para te pedir de joelhos que não me deixes sozinha.
Amar-te é um estado de alma, agora vazio, com medo.
Amar-te é o acto de sentir que vives em mim.
4 comentários:
Há coisas que são um choque para quem as vive, especialmente se as vive tão intensamente.
O que vale é que essas coisas geram textos lindos dos quais não prescindo nem um momento.
Obrigado por este momento maravilhoso que foi ler este magnífico post.
Por vezes pensamos que são só coisas que acontecem ao outros e não a quem amamos.
Só Deus sabe o quanto temos sofrido devido a esse coma, um coma que não nos deixa saber qual o tempo que durará a nossa dor.
Aprendemos que tudo é uma luta contra o tempo e que apenas nos podemos agarrar a pensamentos positivos, mesmo quando parece que esses se esgotam.
Amei o teu post, quem me dera ter lá estado.
Tão longe e tão perto...
Uau mas que post maravilhoso Tânia. Os meus sinceros parabéns.
Tu tens mesmo uma veia artistica.
Olha este fim de semana em principio estarei em faro, se quiseres ver-me podemos marcar um encontro.
Adorei ler o que escreveste. Os posts que mais gosto, honestamente, são os mais sentimentais que fazes.
Muito bom priminha!!! Este post faz relembrar os antigos posts de Tânia. Muito bom!!!
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