Bem vindos ao meu blog. Aqui escrevo o que penso, o que me apetece e o que bem entendo. Fiz-me entender? Nem por isso? É complicado exemplificar. Puxai uma cadeira. Comei pipocas e ride! Sim...riam muito porque tristezas não pagam dívidas.



sábado, 20 de agosto de 2011

Em frente

Quiseste ir embora. Fizeste as malas e nem olhaste para trás.
Não pude fazer nada, era a tua escolha. Decidiste ser tu a partir, tiveste talvez mais coragem e sabedoria para deixar tudo e correr atrás da tua felicidade. Eu não.
Fiquei anos presa na mesma coisa. Trabalhava todos os dias para pagar as despesas. Não queria sair, aborrecia-me completamente. Dizias antes que não gostavas que eu passasse todo o tempo trancada em casa. Como eu te entendia.
Na verdade, nunca soube o que me fazia ficar.
Fazia muitos anos que não me olhava no espelho, que não via as minhas formas, as mesmas formas que tu antes tocavas com os teus dedos firmes.
Tentei olhar-me. A início parecia desfocada, estranha, mas rapidamente percebi que a mulher que via no espelho era de facto eu.
Pensei que havia desaparecido aquela beleza. Que havias levado tudo contigo, que me havias roubado toda a herança genética, além do meu coração e alma.
Mas não.
Havia em mim uma nova força. Subitamente lembrei-me que existia. Decidi sair para comprar roupa. Faziam já muitos anos desde a última vez que decidi comprar uma peça de roupa nova.
Fui a uma dessas boutiques caras e escolhi um vestido preto. Lembro-me de me dizeres que o preto não era de todo a cor que mais me favorecia, e foi por isso que comprei um vestido preto. Por saber que nada do que tu gostavas que eu vestisse ser de facto o que mais me realçava.
Comprei uns sapatos também. Faziam-me as pernas bonitas, um ar elegante. Saí da loja vestida.
Passava pelas montras e admirava o meu reflexo. Sabia bem voltar a sentir-me na minha pele, livrar-me mais e mais de ti a cada compra que fazia.
Quando cheguei a casa nessa noite tu já não estavas.
Os anos passaram e arranjei outro partido. Decidi arriscar.
Por vezes faço comparações entre o que ele é e o que tu eras para mim. Ás vezes perco-me no meio dessas mesmas comparações.
Ele soube olhar dentro de mim, soube ver-me tal como sou.
Por momentos senti que sempre me havia enganado contigo, que sempre soube de toda a verdade, que apenas estiveste comigo pelo meu dinheiro. Que fui mais um brinquedo novo nas tuas mãos, que facilmente foi trocado por uma outra novidade e que essa novidade muito rapidamente se converteria também num brinquedo velho.
Gostei de saber que foste, que tiveste essa coragem, que foste tu e não eu a deixar tudo, a correr atrás da felicidade. Para mim foi questão de tempo. Não tive de mudar nada. A felicidade encontrou-me sozinha, eu não tive de a procurar.
Casei-me.
Por isso decidi escrever-te. Queria que soubesses que vou ser mãe, que mudei de casa, que sou feliz com aquele que me olha por dentro.
Há dias vi-te na rua. Mudaste muito. Os anos e essa vida que levas deram conta de ti. Estás velho e cansado. Não eras de todo o homem que eu queria ter tido. Hoje bem o sei.
Olhaste para mim. Penso que não me reconheceste logo assim que nos vimos.
Gostei de ter sido uma estranha aos teus olhos. Vi que encontraste em mim um novo brinquedo, um brinquedo que não está mais ao alcance de nada do que já tenha sido.

3 comentários:

Cátia disse...

Que te dizer mais mulher?
Tu escreves de forma tão limpa como água. Nunca vi nada assim de uma pessoa que me seja tão próxima.

Por mim podes encher-me com os teus textos via e-mail :D

Jorge disse...

Muito bom. Como sempre, bom.

Anónimo disse...

adoro as entre linhas, ainda mais quando moldo o que lei-o com o que vivo.
Adoro-te MVD sempre e para sempre.