Bem vindos ao meu blog. Aqui escrevo o que penso, o que me apetece e o que bem entendo. Fiz-me entender? Nem por isso? É complicado exemplificar. Puxai uma cadeira. Comei pipocas e ride! Sim...riam muito porque tristezas não pagam dívidas.



terça-feira, 4 de maio de 2010

Desassossego

Tarde demais esperei por ela, e quando por fim chegou, seus passos pesavam de cada vez que pisava o solo. Eram passos lentos e martelavam na minha cabeça como dois martelos pesados de ferro, chocando um contra o outro incessantemente até me querer fazer desistir.
De olhar cansado deixei-me pousar sob a cama vazia e fria numa tentativa falhada de descanso. Fechei os olhos primeiro levemente, mas depois, já farto de tantas vezes o manter fechados sem que o sono lhes roubasse toda a lucidez da escuridão, fechei-os com força, até ver uma imagem escura que foi a pouco e pouco tornado-se mais clara, quase cegando-me por completo.
Tinha as mão húmidas do calor, talvez porque passei demasiadas horas a escrever á espera dela, mas ela sem aparecer. Apareciam com o passar dos minutos novas palavras no papel, desaparecia a tinta da caneta por entre as palavras, fugitiva por entre as letras redondas e confusas já pelo cansaço da noite. Um mês numa tentativa falhada de sono, dois cafés por noite e um whisky para afastar os males, mais umas séries que passavam na televisão e um pouco de música clássica.
Depois já farto de música clássica metia um pouco de jazz! Adorava tentar perceber a diferença entre os vários tipos de jazz enquanto passava lentamente um cigarro pelos dedos, mas sem o fumar logo a início, apenas sentir a sensação de o ter por perto, de saber que dali a nada tudo estaria reduzido a fumo e cinza e que esse mesmo fumo me iria trazer mais paz por instantes, mas depois passaria de novo ao mesmo desassossego de esperar por ela outra noite e de saber que poderá não ser só esta, mas muitas outras...
Ela sem chegar...onde poderá estar a esta hora? E porque levou aquele vestido de ceda elegante que lhe ofereci em Outubro?
Nunca conseguirei entender os caprichos de uma mulher, mas reconheço que nem eu sei entender a mente dos demais que se acemelham á minha espécie, aqueles que pensam como eu e que esperam por coisas que não acontecem, mas esperam-nas na mesma numa tentativa falhada de acontecerem e poder-se chamar um milagre a tal acontecimento espantoso e aparentemente inocente. Faz bem iludirmo-no um pouco e pensar que, dentro de poucos segundos, iremos ver aquilo que desejamos, ou ouvir aquilo porque esperavamos há muito. Faz bem não dormir para sonhar acordado ou então perder uns minutos de escrita para admirar no fim, sentir aquela sensação de agrado permanente como se de um quadro brilhantemente pintado se tratasse.
É assim que passo as noites, enquanto espero por ela.

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