Deixei a felicidade repousar nos braços da solidão. Daquilo que fomos só o passado assiste. As tuas mãos são hoje o frio de um Inverno permanente. De recordações revisto a alma e de desespero abraço mais uma noite das muitas que ainda virão vestidas pela tua ausência.
Já não somos mais nada.
O que outrora fomos perdeu-se e o que encontramos são labirintos vazios.
Chove dentro de mim. Uma tempestade enorme. Nos olhos escapam-se as gotas dessa tempestade que transborda. Os meus olhos são duas janelas, as vidraças embaciadas e revestidas de vapor gélido e angustiante.
Uma dor sem causa aparente. Um sentimento sem significado. Escrevo-te para encontrar-te depois, por entre os meus parágrafos os teus cabelos, em cada sílaba os teus olhos, em cada vírgula o teu rosto.
Nunca meto pontos finais com medo que também tu te vás no meio do meu anseio, desta minha ansia de ter-te sem que aqui estejas.
Loucura.
Somos todos loucos. Bebemos o mesmo veneno, buscamos a mesma cura. Não há salvação. No meu ser não existe amanhecer. Tudo é escuro e frio. Porcuro-te sem te encontrar. As nossas mãos.
O som da porta. Tu a chegar.
Eu a imaginar o som da porta. Eu que idealizo a tua chegada. Eu que sei que não chegas. A porta fechada e sobre a mesa as cartas que nunca leste.
Não sei se me lembro mais de ti.
A tua imagem perdeu-se no tempo, no meio da minha história. Fui eu que te criei, que te fiz brotar das minhas páginas, que te libertei das minhas frases inacabadas.
Já sabes,nunca há um ponto final quando te escrevo.
Sou um louco, sou feliz na minha triste loucura. Perdi-me algures entre o que realmente sou, em páginas em branco e cartas para alguém que nunca as receberá.
Faz frio. Faz sempre muito frio.
Engano-me e sou feliz na minha mentira.
Talvez um dia acorde e saiba que um dia foste alguma coisa.
Talvez tenhamos sido alguma coisa juntos. Aqui ou noutro lugar qualquer.
Loucura.
Parei no tempo e o tempo parou para mim. Parou para ti. Só por ti, mera criação, mera invenção de alguém que não sabe como começar sem ser acabar.
2 comentários:
Tânia
Que texto.
Que maravilha de escrita. Fiquei completamente delicidada. Devias meter isto num livro que eu comprava agora mesmo.
"Sou louco, amor
Se soubesses
com tanto pensar em ti
Já te vi sem que estivesses
No lugar onde eu te vi"
António Aleixo
Um pequeno trecho de loucura.
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