Há coisas que as pessoas fazem e que sinceramente me tiram do sério e por mais voltas que dê à minha cabeça continuo sem entender o motivo de o fazerem.
Uma das coisas que não entendo nos portugueses (até pode ser noutros países, mas falo onde vivo) é a grande admiração que sentem pelos recém falecidos.
Temos um grande ator, ele representa lindamente, toda a gente sabe. Do nada ele morre. Pode ter sido o coração, pode ter sido atropelado, esmagado por uma girafa ou engasgou-se com uma goma e esta ficou-lhe entalada no esófago. A partir do momento em que o infeliz morre, deixa de ser apenas um ator, passa a ser uma divindade, um mito se preferirem, alguém tão importante como Jesus Cristo.
Morreu Eusébio. Lógico que Eusébio é um grande futebolista, ou melhor dizendo, era. Ficou mundialmente conhecido como a Pantera Negra e jamais terei o direito de lhe tirar o mérito que teve em vida. No entanto não consegui entender a importância que teve para tanta gente faltar ao trabalho só para ir admirar uma estátua e ainda menos entendi a cambada de loucos que iam na estrada a correr só para tocar na carrinha funerária. Muito menos entendi a cabeça dos jovens a chorar por um homem cuja geração atual nem sabe a relevância que teve há uns bons tempos atrás.
Há à nossa volta uma enorme tendência em venerar as coisas logo depois de perdidas que me causa uma enorme confusão. E quem fala do Eusébio, fala de outra figura pública qualquer, que ao fim e ao cabo é um ser humano como todos nós, que também fazemos grandes feitos todos os dias ao nos levantarmos cedo todos os dias e suar a estopinhas para um ordenado de cão no final do mês e que se esgota em menos de cinco minutos a pagar casa, luz, água e dar de comer a filhos ou pagar os estudos. Estas pessoas, aquelas que fazem o bem pelos seus e até pelos que não lhes são nada também mereciam ser tão mitológicas como as figuras públicas. A única diferença que nos separa é apenas um ecrã de televisão e um fotógrafo ou repórter que se digne a registar os feitos do dia a dia.
Outra coisa que me causa muita confusão é os ditos bancos de jardim. Há muitos bancos vazios ao nosso redor. Por mero acaso estamos cansados e decidimos aproveitar uns minutos e descansar as pernas, escrever, falar ao telefone ou simplesmente não fazer nada. Estar ali simplesmente a aproveitar o momento num banco de jardim. Subitamente, vindo de nem se sabe onde, um certo individuo aparece e senta-se precisamente no mesmo banco onde estamos. Mas há muitos mais bancos vazios e a escassos milímetros do nosso. Não, preferem o banco ocupado. Não sei se as pessoas procuram apenas sentir companhia, ou se é alguma espécie de fantasia sexual. Não sou anti social nem nada que o valha. Gosto até bastante de conversar com toda a gente, mas faz-me confusão.
Não posso também deixar de salientar as brilhantes fotografias que enchem a minha página inicial do facebook e seus derivados com unhas de três mil metros ou grandes pratadas de comida, gelados, gomas ou simplesmente fotografias dos pés. Para já eu pergunto: Acham mesmo que essas unhas (ou garras não me decidi) ficam mesmo bonitas ou está na moda as unhas bicudas para tirar macacos do nariz? Pode ser que sim, porque realmente não entendi a lógica da súbita moda das unhas de cadáver e a importância que tem fotografar unhas quando há tanta coisa linda que podia ser mostrada mas não é. Os pratos de comida são bons, mas para comer e não para ficar a olhar como se fosse uma obra de arte, além de me tirar logo o apetite faz-me criar uma súbita vontade suicida de matar quem postou a infeliz fotografia. As gomas podem ser apetitosas, mas não exagerem nas quantias, mesmo que seja para uma fotografia, com tanto doce que vi hoje acho que tenho diabetes psicológicos.
Enfim, podia levar aqui a tarde a falar sobre o que acho que não tem cabimento, mas fico por aqui. Talvez tire uma fotografia aos meus sapatos e me ponha a filosofar se a fotografia do calçado foi inventada para passar o tempo ou para lembrar os maníacos do calçado que lavar os pés faz bem à saúde.
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