Bem vindos ao meu blog. Aqui escrevo o que penso, o que me apetece e o que bem entendo. Fiz-me entender? Nem por isso? É complicado exemplificar. Puxai uma cadeira. Comei pipocas e ride! Sim...riam muito porque tristezas não pagam dívidas.



domingo, 15 de setembro de 2013

O vampiro

Chegou o mau tempo.
Uma enorme nuvem negra tapou o céu tingido de azul celeste logo pela manhã.
Soube de antemão que viria tempestade.
Decidi ir para casa, mas a necessidade de ir às compras venceu a minha vontade inquietante de ficar. Saio pela porta vestindo o casaco. O frio enchia as ruas desertas. Ouvia o seu chamamento por entre os phones que mantinha colocados como forma de me abstrair.
Cautelosamente entrei no supermercado mais próximo, como de costume. É curioso como a força do hábito me leve a conhecer de cor todas as ruas e todas as estradas que me levam até algum lugar que precise.
Só tinha falta de dois pacotes de leite e café.
Assim que paguei à mesma rapariga simpática de sempre, saí porta fora com alguma ansiedade.
Olhei o céu novamente.
Uma nova ameaça de chuva estava de chegada. Tapei-me com o saco das compras e tentei ir o mais rápido possível para casa. No entanto, e quase por instinto, naquele dia sombrio...algo me dizia que não estava só.
Do outro lado da rua, dois grandes olhos observavam os meus passos.
Sem querer pensar muito meti música. Andei o mais depressa que pude até onde me sentisse segura, embora eu nunca estivesse segura em lugar algum e eu sabia disso perfeitamente.
Quando cheguei à estrada que me levaria a casa, os meus sapatos escorregaram no solo húmido de outono.
Meti a chave na fechadura e tentei o mais discretamente possível acalmar a minha ansiedade, que começava a tomar conta de mim naquele preciso momento.
Era interessante como me sentia domada pelo medo.
Estava no meu sangue a razão desse pavor.
Ele estava de volta e eu sentia-o rondar entre as árvores, sondando cada movimento meu em busca de uma altura oportuna para me atacar. Rodei a chave duas vezes e esta não se movia. Era a primeira vez que tal acontecia.
Subitamente olhei para trás, para as grandes e densas árvores cobertas de um nevoeiro denso e azulado. Estava a fazer-se tarde e começavam a cair as primeiras gotas de chuva tardia.
Não podia esperar. Tinha urgentemente que entrar em casa. Tinha de me sentir minimamente a salvo.
Pousei o saco das compras no chão e forcei a fechadura mais uma vez, olhando sempre para trás, na expectativa de encarar alguma ameaça que fosse.
Nisto consegui abrir a porta.
Entro em casa e fecho a porta o mais rápido que consegui.
Fiquei encostada à porta por breves instantes tentando recuperar o fôlego.
Tranquei a porta e sentei-me no sofá um pouco assustada.
Coloco o saco das compras no chão e uma pontada de cansaço apodera-se do meu corpo. Fecho os olhos, sinto o ar entrar e sair pelo meu corpo com a mesma precisão. Relaxo. Estava calma, serena, completamente relaxada e atordoada pelo sono que me possuía. Nisto algo me desperta, um baque vindo da porta da cozinha que indicava que não estaria sozinha. Abro os olhos, observo atrás de mim, na direção da cozinha. Levanto-me sentindo que o meu coração me dera um aviso prévio de que alguma coisa se passava.
Avanço cautelosamente até ao wall de entrada. Deixo-me ficar alguns segundos e seguro a primeira coisa que me apareceu. Uma jarra com as respetivas flores. Caminho devagar, descalçando os ténis húmidos pela brisa da rua.
Avanço na direção da cozinha, junto ao breu que a moldava.
Sinto o coração bater-me nas costas, o corpo hirto pelo medo...e nisto uma mão que me agarra assim que coloco o pé no interior da negra cozinha.
Tento gritar, mas não consigo. No escuro vejo dois olhos que me fitam com demasiada precisão. Soa-me a aviso. Tento libertar-me e nisto caio. Deixo o peso do meu corpo cair comigo.
Desperto!
Abro os olhos e reparo que tudo aquilo não passava de um pesadelo. Eram três horas da manhã. Tinha o corpo suado e a tremer. Sentei-me na cama e bebi o meu copo de água que deixo sempre em cima da mesa de cabeceira.
Encosto-me, tento relaxar.
Olho as horas a passar pelo relógio e começo a fechar os olhos, deixando passar uma sombra que se move atrás de mim pela janela.

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