Chamam-lhe Reality shows. Eu chamo-lhe a vergonha da televisão em direito.
Uma forma de atingir gregos e troianos com a vida alheia diretamente de qualquer canal de televisão.
Como não poderia deixar de ser, Portugal tem sido um grande adepto deste formato de programas que, infelizmente, tem vindo a conseguir um número acrescido de espectadores assíduos.
A que se deve tanta fama?
Mas antes de mais, deixo a pergunta:
Porquê este tipo de programas?
A resposta é simples. Muito simples.
As pessoas já não se interessam por cultura. Já ninguém quer saber de um bom documentário sobre a nossa história. É demasiado aborrecido ver tal coisa. Para quê saber do que foi feito pelos nossos antepassados? Muito mais interessante ver meninos e meninas jovens a entrar para uma casa, completamente entre quatro paredes, a discutir, a comerem-se, a enganarem-se e a baterem-se. No clímax deste tipo de programa, ainda há o vencedor da vergonha. Aquele que para uns é considerado o melhor jogador, mas que eu chamaria de desavergonhado com melhor perícia. Aquele que conseguiu chegar mais longe.
E ainda há quem se orgulhe de dizer que participou em programas do género e que o fez por falta de dinheiro.
Ok, é verdade, todos nós temos falta de dinheiro. No entanto, por mais falta de dinheiro que me faça, não me vejo a entrar num programa assim, e subitamente ver a minha vida investigada até ao último suspiro.
As pessoas deixam de ter as suas vidas privadas. Tudo se sabe. Absolutamente tudo.
Não estou a chamar aos concorrentes de coitadinhos, porque cada pessoa que se inscreve, só o faz porque quer. Deve de ser divertido, quem sabe. Vamos lá fazer da minha vida uma novela da noite digna da TVI, cheia de mortos e feridos, conspirações e intrigas.
Sempre que ligo a televisão é só isto que vejo: Programas que de forma alguma contribuem para a minha instrução, até a atrapalham, telenovelas em que só nos leva a seguir os lindos exemplos que vemos, homicídios e mortes a torto e a direito, ou porque a tia era rica e a sobrinha tem que deitar as mãos na fortuna, ou porque o pai era um canalha que só queria os bens da mulher para se mandar para o México com a amante...enfim. Coisas lindas, só mesmo na televisão.
A novidade está para chegar.
O dito programa em que entram jovens esbeltas e rapazes janotas e se cruzam numa dada circunstância, acabando por descobrir que são feitos um para o outro.
A sério?
Diria eu que é o programa perfeito das encalhadas que não conseguem ter uma vida feliz sem um macho que lhes faça uma festa no pelo, ou das espertinhas que não prescindem deles para lhes bancar as despesas. Estes programas são perfeitos para estas coisas todas.
Afinal de contas, vivemos num país de golpes, quer de estado, quer amorosos, ou até no controle de umas pessoas para com as outras. Lindo, não é?
Para quê me inscrever para a casa dos segredos? Se eu quiser a minha vida exposta, tenho o facebook. Nem preciso ir tão longe. Pelo menos enquanto uns se vão entretendo a ler que casei ou que tenho 80 filhos, vou fazendo a minha vida no mundo real, que é o aqui e o agora.
A parte a que chamo a "Comédia da situação", é que os concorrentes ficam famosos e até têm fãs.
Por outras palavras, uma mulher que aparenta ser uma criatura de respeito, subitamente revela-se uma menina da rotunda e tem um milhão de fãs porque sim, porque a revelação foi espantosa e não é fácil admitir o estatuto social perante o mundo e em direito.
Valha-me Deus...eu sou mesmo deste mundo?
Ainda bem que sempre há um bom livro para ler, pessoas para conversar, vida para se ter.
Ainda bem que nasci o tipo de pessoa que tenho com o que me ocupar sem ser vendo o que os outros fazem num programa. Os coitados ainda são pagos para fazerem a figura que fazem. Triste mesmo é que ninguém os manda fazer aquela figura. Fazem simplesmente porque querem ser alguém no mundo. Seja de que forma for...o que importa é mostrar que estão ali, o que não é para todos...no ponto de vista de quem concorre ao medíocre.
Sem comentários:
Enviar um comentário