Nunca é demais ter alguém para repartir algum momento da nossa vida, seja ele de pequena ou grande importância.
Seja como for, a minha maior tendência é a de atrair cromos ou gente doida.
Ao mesmo tempo que vou fazendo as melhores amizades que alguém pode ter, também vou conhecendo alguns cromos de estimação.
O último caso foi recente e posso, por conseguinte, colocá-lo no topo da lista.
Certo dia o K (nome fictício para não chamar quem quer que seja ao barulho) adicionou-me no facebook. Como eu estava em disposta, aceitei.
Aos poucos, consoante a disponibilidade, íamos falando e tudo parecia normal. Nunca houve um insulto ou o que quer que seja por parte do K. No entanto, certo dia, vi que o K tinha publicado no seu perfil que enfrentava um desgosto de amor.
Pessoalmente nunca tinha conhecido o K.
Numa noite não há muito tempo atrás, o K perguntou-me se faria mal encontrar-se comigo e desabafar, porque se sentia em baixo e precisava desanuviar e desabafar.
Disse que sim.
Observei o perfil do K e constatei que não era nenhuma super star estilo Leonardo Dicaprio nos seus tempos de Romeu e Julieta, mas isso pouco interessava, quando o assunto era ajudar alguém a sentir-se melhor.
Eu e a minha mania de querer ajudar que nunca resulta, falam sempre mais alto.
Posso mesmo dizer que é um defeito meu que ainda estou a aprender a controlar.
Chegado o dia, esperei o K que não havia meio de aparecer. A dada altura vejo um rapaz com um ar muito simpático que, de longe se parecia com ele. Fui olhado para todos os lados mas o meu olhar voltava-se sempre para o lado do tal rapaz. Vi que o rapaz também olhava na minha direção e sorria algumas vezes, o que me levou a tomar a iniciativa e perguntar se era o K. Amavelmente, o sujeito simpático disse-me que não. Pedi desculpa e virei costas procurando o K, quando recebo uma chamada e surge, o que me parecia, um pedinte de esmola dos anos 50 aderindo à tecnologia smartphone.
Olhei para o meu telemóvel...este tocava.
Olhei em frente e o estranho pedinte estava ao telefone. Pior que isso, olhava fixamente para mim, como se soubesse que eu lhe ia dar uma moedinha.
Como se a situação não pudesse piorar mais, constatei que o K era esse sujeito com ar de pedinte.
Diante de mim estava um rapaz raquítico, com boné da loja dos trezentos desbotado e espalmado como um ovo estrelado na cabeça, óculos pretos de sol super fininhos que lhe davam um ar de mosca em corpo de gente, casaco castanho com uma manga subida e outra descida e calças verdes clássicas com a bainha por fazer, que junto dos ténis pretos e rotos faziam uma boca de sino estilo hippie. Mas usava smartphone...e veio cumprimentar-me...
Juro que nesse momento pensei muito na velha frase que "ninguém cruza o nosso caminho por acaso". Estava eu a perguntar-me se ainda me teria que cruzar muitas mais vezes com ele, mas afastei a ideia da cabeça dizendo que iríamos ao nosso café no local mais próximo que encontrei dali, para depois poder fugir mais feliz e ele me perder de vista.
Bem...durante a conversa não há muito que dizer. O K não tinha assunto, falava olhando para a esquerda e para a direita, com a mão esquerda entrelaçada na direita e com os óculos de mosca a tapar-lhe a testa. Quando levava a mão ao boné, pude ver que devia ter no máximo trinta cabelos, para além da barba mal aparada.
Perguntei-lhe como é que ele estava e sobre a situação do famoso desgosto de amor, que agora me fazia sentido ter acontecido. Ele falava vendo o movimento ao redor dele e nunca olhando para mim, dizendo que a ex namorada era uma parva, que ainda uma outra parva e que gostava muito de encontros, porque era um rapaz engatatão.
Só eu sei, como foi que não me ri daquela peripécia e não deixei a conversa prolongar-se muito além do horário que estabeleci para me ir embora, contando os minutos e revistando a mala para não adormecer de tédio perante um sujeito que me disse ter 29 anos, mas que nem sabia que idade teria quando eu chegasse aos 30.
Não gosto de gozar com a vida de ninguém, por isso mesmo todas as pessoas que lerem este texto só irão saber que o sujeito é um tal de K, mas precisei refletir sobre o que me teria levado a ir a um tal encontro surreal com uma vedeta tão demodé.
Assim que tive a minha primeira oportunidade despedi-me e paguei o meu café. O K pagou o seu, o que foi até a única coisa que reconheço que ele reparou que estava correta e segui a minha vida com a frase final mais encantadora de sempre: "Logo marcamos outro café." Lógico que eu não proferi tais palavras, foram todas elas ditas pelo K antes de seguir a sua vida, mas ainda me perguntei quantos copos de vokda preta seriam precisos eu beber para dizer que sim.
Resumindo a história, arrependida do meu tempo perdido, resolvi ir para casa e esquecer que conheci o K. No entanto não deu. O K decidiu mostrar o seu lado sedutor e mandou um pedido de amizade à minha melhor amiga, o que me deixou furiosa tanto a mim como a ela. Confrontei o K via messenger, que me disse que fez sem pensar...frase esta que ouvi tantas vezes que até me esqueci lá no nosso café inesquecível e como tal decidi que o melhor mesmo seria bloquear o K.
Lamento que o K não tenha muitos amigos, mas eu não posso ter pena de toda a gente. Dou-me sempre mal com a velha teoria da pena. Além do mais, para penas, temos as nossas queridas galinhas.
Lamento K, mas tens que ir tentando para outras bandas. Ou a minha cultura se foi naquela momento em que falamos e sofro de literacia, ou de facto eu não entendi uma palavra do que dizias.
Pode ser que o K certo dia mande o pedido de amizade certo a uma K tão solitária como quanto ele e juntos possam Kapear para o planeta Kaput. Até lá oremos para que dê certo.
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