Hoje na minha casa foi dia de limpezas daquelas porcarias que teimamos em guardar só porque sim, mas que mais tarde acabamos por constatar que não nos fazem falta alguma.
Normalmente gosto de colocar uma boa música e abrir assim os baús das recordações nos confins do meu quarto.
Durante a minha busca pelo desnecessário fui encontrar algumas fotografias e coisas que guardei (não me lembro o porquê) de uma relação qualquer que tive há uns anitos atrás.
Começando a relembrar...
Ele era o X (nome que inventei para o referir). O X foi o motivo pelo qual criei este blog.
Conheci o X na época da Universidade. Não éramos do mesmo curso, mas estudávamos nas faculdades vizinhas. O X tinha um amigo, que era o Y. Nunca os vi conviver com outras pessoas e circulava na época o boato de que eram gays.
Por circunstâncias da vida, eu e a minha amiga ficamos amigas do X e do Y.
Passado pouco tempo eu e o X começamos a namorar.
Era bom conviver com o X, porque era daquelas pessoas que não conseguia ter outras conversas tirando as do fórum badalhoco, que me faziam sempre rir e descomprimir. Além disso o Y também tinha uma vertente humorística grande e assim, éramos o quarteto mais risonho da Universidade.
Ambos estudavam Engenharia Informática, mas não se achavam no curso certo.
A dado momento da minha relação com o X, as coisas mudaram e senti um distanciamento qualquer.
Como na altura eu não sabia muito bem o que se passava, resolvi criar este blog para escrever em forma de poesia ou prosa os meus sentimentos e as minhas angústias.
Enquanto isso acontecia, o Y resolveu criar um passatempo qualquer dizendo ao X que eu não era quem parecia.
E assim se criou a teoria de eu ter duas vida paralelas algures no imaginário do Y e mais tarde do X.
Foi assim que o X resolveu inventar que seria melhor cada um seguir a sua vida, conversa que admito hoje que demorei a assimilar na minha cabeça, porque aprendi a gostar muito do X. Cest la vie...Cada um com o seu Karma.
Depois do X e eu nos separarmos, o Y começou a bombardear-me com ameaças de vingança meio ao estilo da pré escolinha, quando uma criança de vinga da outra porque lhe roubou o lápis ou lhe derramou o sumo para cima. E assim foi.
O Y arranjou assim um passatempo mais divertido do que o seu (na época em que tudo se passou) namoro virtual com uma brasileira qualquer. O novo passatempo do Y era entrar nas minhas contas, roubar as passwords e andar para lá entretido e divulgar o meu e-mail e da minha amiga nos chats só para se sentir feliz e fazer elevar o seu ego ao limite.
Por outro lado, eu não estando feliz com a brincadeira, confrontava-o, sem sucesso. As coisas não se resolviam frente a frente segundo o Y, mas sim pela tela de um computador, motivo pelo qual preferia sempre os ratos às ratas, termo este que até o X concordava.
Adiante com isto, o Y aliciou o X e assim partiram eles na sua jornada pela vingança infantilóide contra a minha pessoa e a minha amiga. Entravam nos nossos mails, nos nossos facebooks, em tudo o que mais podiam e diziam-se donos da verdade.
Por outro lado eu tentava recompor-me e pelo caminho ia cometendo as minhas asneiras, pensando assim que, se ficasse próxima do X, talvez tudo pudesse acabar bem.
As coisas nem sempre são como pensamos e eu, naquela altura, preferia iludir-me do que enfrentar a realidade.
O meu blog começou a ser um poço de indiretas ao X e por sua vez, o X respondia indiretamente no seu blog. Como eu me sentia bem em dizer umas coisinhas más de vez em quando. Mesmo sem entender o porquê, lá soltava a inspiração. Digamos que era a minha forma de aliviar e digerir as coisas, embora não fosse de todo a mais feliz.
Mais tarde passei-me completamente mais a minha amiga e apresentamos queixa na polícia por invasão à propriedade privada, considerado crime semi-público e que arquivamos pouco tempo depois, simplesmente porque não valia o esforço.
Foi uma situação um tanto complicada para mim, mas que hoje me provocou um alto ataque de riso ao dar de caras com aqueles dois cenários saídos de um filme de comédia.
Enfim...
O tempo passa e lá foi o X e o Y para o caixote do lixo.
Fiz-lhes adeus esperando que se encontrem bem. Talvez hoje o X tenha encontrado o seu príncipe encantado e tenham decidido adotar uma criancinha qualquer.
Quanto ao Y, em tempos tive o prazer de me cruzar com ele na rua. Ia de fatinho. Possivelmente fundou uma empresa de detetives privados, porque a sua especialidade sempre foi mais essa do que tirar boas notas no curso.
Não guardo mágoas nem ressentimentos. Não guardo simplesmente nada em relação ao X e ao Y. Passado é jornal de ontem. Depois de usado e lido, acaba sempre no contentor. E foi o que hoje aconteceu, enquanto limpava o meu quarto. Porque para lixo, já há que baste nos aterros sanitários. Além disso, há uma frase que o X um dia me disse, talvez uma piadola frustrada, dizendo que precisamos cair para nos levantar. E é verdade.
Não foi uma história da Disney, não fui sempre correta, admito os meus erros e sei que podia ter calado muito do que deitei para fora. A raiva do momento faz-nos dizer coisas que no fundo não queremos.
No entanto aprendemos sempre com isso.
Aprendi que não sou a pessoa que demonstrava na altura, que não podemos forçar o sentimento de ninguém, ou a sexualidade de ninguém como no caso do X, que o que lá foi, já lá vai. Podemos sofrer um pouco no início mas depois passa e foi isso que aconteceu.
Passou tudo. No momento em que revi aquelas fotografias, percebi que foi tempo perdido com tolices e infantilidade. Infantilidades minhas por me iludir e querer ficar bem com o X, infantilidade das duas vedetas por se quererem vingar sabe-se lá do quê.
Caí mas lá me levantei e hoje...(que é algo que acontece sempre a nós mulheres) ainda me perguntei o que foi que eu vi de tão especial no X, porque sinceramente não encontrei ali nada. É assim, todos amamos uma ideia em algum momento...e depois desamamos para voltar a amar mais forte no futuro a quem devemos amar. E além do mais nem sempre gosto de ser agradável mesmo com lembranças da carochinha. Gosto sempre de ser desagradável em algum momento, afinal, se não disser as coisas que penso, mais ninguém as diz.
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