Bem vindos ao meu blog. Aqui escrevo o que penso, o que me apetece e o que bem entendo. Fiz-me entender? Nem por isso? É complicado exemplificar. Puxai uma cadeira. Comei pipocas e ride! Sim...riam muito porque tristezas não pagam dívidas.



sábado, 13 de fevereiro de 2016

A mania das pessoas em querer saber tudo da vida de todos

Há sensivelmente três anos atrás, comecei a trabalhar na área das promoções e muitos dos espaços para onde eu tinha de ir, eram partilhados com um ou mais colegas de trabalho.
Foi assim que, passado pouco tempo, conheci uma colega de trabalho a que chamarei de P.
A P era uma senhora na casa dos 47, atualmente com 50, e muito simpática com toda a gente. Era muito fácil ser-se amigo da P. Por vezes até sabia bem trabalhar com a P. No entanto, de uma momento para o outro, eu e a P ficamos muito amigas e a P começou a ligar-me com mais frequência para saber como eu estava.
Inicialmente tudo corria bem. No entanto, com o passar do tempo, começo a reparar que as chamadas da P eram de uma frequência cada vez maior e obsessiva.
De um momento para o outro, fizesse eu o que fizesse, era bombardeada com todo o tipo de chamadas.
Sem querer dar grande importância ao pormenor em questão, falei com a P para apenas não me ligar na minha hora de trabalho, coisa que a P respondeu com um sim, mas atuou com um Não.
Todo o santo dia, no meu horário de serviço, eu era bombardeada pela P. O teor da conversa?
Nada mais, nada menos do que: "Onde estás, o que fazes, com quem, quando voltas, quanto ganhas, quanto custou"...
Começo a não achar muita piada ao tipo de atitude da P, mas vou aguentando o barco.
Numa dada altura da minha vida, comecei a trabalhar com a P nos mesmos espaços e comecei a reparar em pequenos pormenores. Tudo o que eu tinha, a P tinha que arranjar parecido. Primeiro, ria-se das coisas que eu tinha, dizendo que eu arranjava todo o tipo de bugiganga. No dia seguinte, tinha precisamente a mesma coisa que eu.
Mais tarde passou a controlar o valor das coisas que eu tinha. Quanto custou? Porque gastaste esse x se podias gastar este x? Coisas assim do género.
Lembro-me de me sentar e pensar precisamente sobre a minha idade e a idade da P, questionando-me qual o grau de parentesco que nos unia.
Alguns meses mais tarde, a dita P decidiu preencher a sua solidão com uma quantidade de chamadas despropositada. De minuto a minuto, fazia a sua chamada. Não sendo atendida, repetia a proeza, numa tentativa de conseguir forçar-me a falar com ela, quando eu não podia. Na verdade, nem podia, nem queria. Até mesmo quando eu já podia, não fazia questão de atender, sabendo sempre a conversa que aí vinha e que, no final da novela mexicana que este enredo se tornara, eu iria desligar sempre a encenar o meu melhor papel, quando na verdade estava rebentando pelas costuras.
A minha vida, de um momento para o outro, passou a ser alvo de controle, de diversão e de preenchimento do tempo livre da P, que aliás, era muito. Tempo para coisa que não lhe faltava.
A forma como a P preenchia o seu tempo, era passando o dia a telefonar-me. Se eu não entendia ao fim de mil e quinhentas tentativas de chamada, ligava para uma amiga minha de quem ela também tinha o número. Por fim, se a minha amiga não lhe dava bola, ligava para minha casa, massacrando o tempo a quem quer que lhe atendesse o telefone.
Chegou mesmo ao ponto de estar a trabalhar numa escola de primeiro e segundo ciclo onde a minha irmã mais nova estudava, e massacrar a minha irmã, pedindo-lhe informações a meu respeito de todo o modo possível e imaginário.
O derradeiro adeus a esta situação começou quando eu decidi instalar um programa no meu telemóvel para bloquear as chamadas da P. Mais adiante, cada encontro era preenchido com piadas e bocas de quem demonstrava ser um mapa da minha vida, mais do que eu mesma. Aguentei e aguentei e inspirava e expirava numa tentativa de pensar que, em algum dia, tudo aquilo iria acabar.
E acabou mesmo. Acabou quando a P decidiu ter a mania que sabia com quem eu falava ao telefone e que eu trabalhava em lado Y em vez de lado X. Acabou nesse preciso instante, quando eu me levantei e a encarei nos olhos e abri por fim a minha boca, sem me preocupar com quem ouvia. Acabou quando eu projetei a minha voz de forma a que a P ficasse colada ao encosto do banco em que estava sentada, surpreendida pela minha coragem e sem argumentos para me dar. Acabou quando eu lhe pedi que se preocupasse com o filho que tem, em vez de se preocupar comigo, porque eu também tenho mãe. Acabou quando eu lhe disse que era uma vergonha, uma mulher da idade da P, meter-se na vida de alguém quando nunca fez nada por mim.
Lamento que as coisas tenham chegado a este extremo.
Por norma admito, sou uma pessoa muito paciente e tolerante e penso sempre em respeitar os outros. No entanto, comecei a dar-me conta que, se calhar, esta não é defesa alguma para pessoas como a P.
Aprendi todos os dias com o que via e serviu-me de lição, embora possa parecer que tomei a atitude já um pouco tarde.
Nunca se é tarde quando se sente que é chegada a altura de se dizer o que se sente.
O importante é mandar embora o que nos afeta, o que nos faz mal e que consideramos tóxico. Para mim, a P, não passava de uma pedra no meu sapato, que eu tive de aprender a mandar embora.
Assim foi. Foi embora para bem longe e o que é certo é que ontem choveu e hoje, o sol teima em querer espreitar.

Sem comentários: