Reparei que já dormia. Era tarde. Toquei levemente na sua face rosada. Depois saí do compartimento onde nos encontrávamos. Desci as íngremes escadas e mergulhei no breu.
Vislumbrei uma janela ao fundo da sala, olhei para o exterior e vi a noite sob o meu olhar fatigado.
Do lado de fora o mundo dormia solitário. No interior nada mais se passava além do bater de dois corações vadios e sem rumo. Perguntei-me se algum dia te acharia.
Fiquei sentada nas escadas, esperei a noite passar. Sentia as pálpebras pesadas. Havia duas noites que não dormia. O peso da alma era mais forte agora. Quanto mais tempo aguentaria?
As horas naquele lugar passavam lentamente, sempre com o mesmo pesar. Os dias eram curtos e chuvosos.
O frio envolvia-me nos seus braços a cada segundo. As gotas de água que caiam beijava-me levemente a face pálida. Um arrepio sóbrio empurrava-me contra o abismo. Uma gargalhada estridente fez-me recuar dois passos. Ele vinha a caminho, ao meu encontro, para me ferir uma vez mais. Podia sentir o seu cheiro fétido, os seus passos apressados no escuro da noite, a anunciar a doce vinda da neve branca e cristalina.
No escuro era impossível ver-te o rosto. Era impossível sentir o bater mísero do teu coração desumano.
Deixei-me ficar. Tu não vinhas. Talvez fosse apenas ilusão. Talvez.
Sem comentários:
Enviar um comentário