Eu não gosto de pessoas que têm a mania que já nasceram com a licenciatura.
Gosto muito de socializar, de conhecer rostos novos, falar de mim e do mundo a toda a gente. No entanto, com o tempo e a sabedoria, vamos aprendendo a escolher o que dizer.
Quando dizemos muito e escutamos menos do que aquilo que dizemos, normalmente somos sempre julgados de uma forma ou de outra. Mesmo que esse julgamento seja uma coisa inofensiva aparentemente e a pessoa que nos aponta o dedo não tenha verdadeiramente a intenção de nos julgar, apontar o dedo a alguém com um argumento qualquer é já em si um tipo de julgamento.
Por isso, com o passar dos anos e com a aprendizagem, fui sendo mais seletiva nas coisas que digo, mais cuidadosa também. Mesmo assim, há sempre aquele engraçadinho ou engraçadinha que pensa saber um pouco mais do que eu.
Chamo a isso pessoas com mania.
Chamem-lhe o que quiserem, mas eu não suporto quando digo que a cor da minha blusa é branca e me dizem que afinal eu não estou a ver bem e é creme. Detesto. Não há nada a fazer.
Sei que pontos de vista são simplesmente pontos de vista, opiniões chegam consoante os pontos de vista de cada um. Mesmo assim, ainda aprendo a ganhar um pouco mais de paciência com pessoas que julgam saber mais do que eu.
Não digo que eu também saiba mais do que elas. Mas uma coisa eu digo:
Eu não vivi vida alguma além da minha. Logo trago comigo as minhas experiências de vida, assim como cada pessoa trás as suas. Ninguém pode querer viver a vida de outra pessoa, logo cada experiência é uma forma diferente de ver a vida.
Devemos ser tolerantes e saber aceitar os diversos pontos de vida para que haja pelo menos bom ambiente e possamos saber até que ponto somos tolerantes. No entanto, por mais calma e tolerante que eu tenha sido ao longo dos anos, ainda não consegui passar a etapa de ser tolerante com alguém, quando esse alguém não tem modos corretos para se dirigir a mim.
Seja qual for o discurso, a retórica, o argumento, a intenção dessa pessoa. Eu sou tolerante a qualquer coisa, menos quando tentam falar por cima de mim, mais alto que eu, não me deixando acabar de falar e ainda repetindo vezes e vezes sem conta que aquela blusa não é branca e sim creme.
Ok...
Respiro fundo. Dependendo da idade e da proximidade que essa pessoa possa ter comigo eu adequo o meu discurso. No entanto, dentro de mim há uma onda enorme muito próximo de chegar ao limite da costa da minha paciência. Raras são as vezes em que perco as estribeiras, embora eu reconheça que isso já aconteceu uma vez ou outra, e quase sempre engulo grande parte do que escuto, ficando depois como que espinha entalada na minha garganta.
Não sou rancorosa, mas também não sofro de amnésia. Consigo fazer uma lista negra de coisas negativamente marcantes que vou ouvindo. Depois há sempre aquela altura em que essas coisas saem para fora.
Afinal de contas, eu disse que devemos ser tolerantes com os outros, saber respeitar os pontos de vista e as opiniões que nos são dadas. No entanto, isso não invalida que tenhamos que nos deixar espezinhar e humilhar perante o outro. Porque afinal de contas, permitir isso é dar carta branca para que haja uma próxima vez. Podemos ser educados, escolher as palavras e o tom com que as dizemos. Podemos engolir em seco e inspirar profundamente antes de dizer o que seja. Mas não precisamos deixar que alguém nos cale com a sua falta de paciência e venha falar por cima de nós. Costuma-se dizer que quando dois falam ao mesmo tempo ninguém se entende e não posso estar mais de acordo.
Sou apologista da boa educação. E a boa educação não é toda a gente que a tem. Sei sempre respeitar os outros, por isso não devo esperar menos daqueles com quem me relaciono no meu dia a dia.
Já deixei em tempos muitos me dizerem o que queriam e bem entendiam com medo de responder. Ficava nervosa. Tinha medo de dizer o que ia dentro de mim. Isso durou anos e anos, até eu aprender por mim mesma que ninguém deve calar o que seja dentro de si. Nascemos para ser livres com aquilo que dizemos. Pensamentos são apenas ideias e pontos de vista. Não precisamos de guardar tanta coisa desnecessária na nossa cabeça. Também não precisamos de nos magoar a nós mesmos com o silêncio. O silêncio é bom, é essencial, mas também tem de haver algum ruído.
Saber impor é saber afirmar a nossa posição. É saber dizer até que ponto queremos ser respeitados pelo outro. Como tal, se soubermos como nos afirmar sem magoar ninguém, também não precisamos de aturar ao nosso redor o que não achamos saudável para nós.
Isto foi apenas um desabafo meu. Um ponto de vista sobre o qual me apeteceu escrever porque sim, aconteceu-me recentemente.
Eu odeio quando as pessoas me insultam sem me deixar argumentar. Simplesmente porque eu não fui educada assim, para falar por cima de alguém como se fosse membro de uma autoridade qualquer.
Há que haver limites para tudo. Se não houver limites ninguém se respeita, somos todos abusados e todos abusamos de alguém. Limite é a palavra que define a minha posição perante pessoas que sentem necessidade de chegar ao pé de mim e falar como se soubessem mais de mim do que eu.
Limite.
Como eu disse, detesto pessoas que julgam terem nascido licenciadas. Seja como for, diploma algum serve de lápide em tempos vindouros.
As pessoas deveriam de ser mais pessoas, e não ideias e títulos, com manias de sábias e saber escutar.
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